Ser Mulher

Ser mulher aqui é um desafio, uma constante luta entre o que se espera de mim e o que eu realmente sou. Não é fácil ter que seguir um papel pré-definido, um contrato social que dita quem eu deveria ser, como deveria agir e, sobretudo, a quem deveria pertencer. Não é suficiente ser apenas eu, há sempre uma sombra que me empurra para ser "a mulher de alguém", como se o meu valor estivesse inscrito na assinatura de um outro.

Aqui, ser mulher é carregar o peso da submissão disfarçada de decência. É rezar o terço, dizer "amém" sem questionar, ir à missa e ser sempre bonita, jovem, impecável. Para muitos, ser mulher é não ter opinião. É ser a figura que se apresenta aos pais como a esposa ideal, mesmo que por dentro a chama da indignação arda em silêncio.

Mas, eu, não. Eu que tenho a liberdade presa debaixo dos meus braços, carrego brasas a queimar debaixo dos pés. Já pus uma pedra sobre o meu passado, enterrei aquilo que me impedia de respirar. E, se a minha presença, se o meu ser incomoda, ofende aqueles que preferem que eu me mantenha em silêncio, pacífica, submissa… então que assim seja. Não recuarei um passo.

Deixa-me viver. Deixa-me abanar a cabeça, sacudir o peso dessas expectativas absurdas. Coloca mais vinho nesta mesa, porque hoje não quero lembrar das amarras que me impuseram, mas sim celebrar a mulher que sou, a mulher que me tornei. Hoje, quero ser o centro da festa, quero ser o assunto da conversa. Quero brilhar, não pelas regras alheias, mas porque eu decidi aparecer, tomar o meu lugar. Não sou uma espectadora passiva na minha própria vida.

Há quem me olhe com desdém, com piedade. Há quem murmure "pobrezinha", por estar sozinha, sem apelido de marido, sem ter a quem "pertencer". Dizem que sou carente, mal-amada, que luto contra um destino que deveria simplesmente aceitar. Há quem se preocupe mais com os meus rótulos do que com os meus sonhos. Mas, não sou uma pobre coitada. Sou forte, sou livre, e, acima de tudo, sou dona de mim.

Por isso, deixa-me abanar a cabeça, sacudir essas vozes que me tentam definir por convenções ultrapassadas. Traz mais vinho, faz-me um brinde! Hoje celebro o poder de ser quem sou, uma mulher com dois dedos de testa, uma mente afiada e um coração ainda mais resistente. Sou a voz que nunca mais será calada, e se ser ouvida incomoda... é porque talvez nunca tenham escutado uma mulher como eu.

Eu tenho brasas a arder dentro de mim, uma força que nem todos conseguem entender. Sim, pus uma pedra no passado, mas essa pedra é a base sobre a qual construo o meu futuro. E se o que eu sou desafia o que os outros são, se o meu ser os perturba, então só posso dizer: que o desconforto sirva de reflexão.

Deixa-me ser o centro da festa, a dona da conversa. Não sou mais uma mulher que vive pelas expectativas alheias. Sou a voz, e hoje, sou quem eu sempre deveria ter sido. Não preciso de ser uma boa ouvinte para aquelas palavras que apenas querem diminuir o meu valor.

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