Apaguei.

 Estava na minha terra, naquela tranquilidade onde a maior emoção do dia era quando o padeiro passava mais cedo e ninguém tinha tempo de ir buscar o pão. Eu estava a beber uma sangria — nada de mais, só aquela sangria que parece que sabe a férias. O último gole mal tinha descido e... puf! Apaguei. O próximo cenário? Hospital. Uma pulseira laranja fluorescente no pulso, daquelas que se vêm do espaço, e um cateter espetado na mão. Elegância zero.

O primeiro pensamento que me veio à cabeça? "Mas que raio de hospital é este que te veste como se fosses um sinal de trânsito?". Depois pensei: "Já morri? Nem um aviso prévio? Pior serviço que a MEO!". Olhei à volta para ver se percebia o que se estava a passar. Tudo branco, tudo a cheirar a desinfectante. Pior do que um centro de saúde em dia de vacinação.

Tentei mexer-me, mas aquela cama parecia ter um sistema de segurança que ativava o desconforto logo que pensavas em sair dali. Tinha as costas mais tortas do que as cadeiras da escola primária. Olho para o lado e vejo um senhor a roncar tão alto que mais parecia um motor a diesel a aquecer para arrancar. E eu ali, presa com um cateter na mão, a pensar: "Será que isto é tipo uma nova forma de tortura? Espetam-te agulhas e depois metem-te a ouvir este concerto de roncos?"

Chamei a enfermeira, que apareceu com aquele sorriso de quem está habituada a ver gente entre a vida e a morte, mas com mais paciência do que quem atende nas finanças. Perguntei: "O que é que aconteceu, afinal?". Ela, tranquila, respondeu: "Não se lembra? Caiu redonda, como um saco de batatas". E eu pensei: "Cair redonda? Eu? Mas eu só estava a beber uma cervejinha! Isto de cair sem avisar é coisa de novela brasileira, não da minha vida!"

Ela continuou a explicar que um familiar  telefonou para a ambulância porque eu estava a dizer coisas sem sentido antes de cair para o lado. Ora, se me conhecessem, saberiam que esse é o meu estado normal, portanto não vejo onde está o alarme. Agora, o problema era eu não saber se tinha sido a cerveja, o calor, ou a falta de paciência do meu corpo que decidiu que o chão era mais confortável.

Resumindo: pulseira laranja fluorescente, cateter espetado e sem saber o que me tinha tramado. Lá na minha terra, onde o evento mais emocionante do ano é a festa taurina, consegui dar um espetáculo digno de série médica. E o pior? Tenho de ir fazer montes de exames.

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