Efemeridade
A efemeridade da vida é um tema que, quando verdadeiramente compreendido, transforma o nosso olhar sobre cada instante. Viver consciente da transitoriedade das coisas é como abrir uma janela para o essencial, para o que realmente importa. Talvez, se mais vezes nos déssemos conta de que a vida é como um sopro, como um rio que corre sem volta, teríamos mais cuidado em como navegamos por ela.
Quantas vezes adiamos o que deveria ser dito, o que deveria ser vivido? Guardamos abraços, palavras, gestos, como se o tempo fosse uma conta bancária infinita, sempre disponível para um "depois". Mas a verdade, essa que às vezes preferimos não ver, é que o "depois" é uma incógnita, e cada momento que passa é uma oportunidade que talvez não se repita.
Somos, muitas vezes, vítimas da nossa própria inércia. Deixamos que a rotina nos engula, que o hábito nos anestesie. Passamos mais tempo a reclamar do que falta do que a agradecer pelo que temos, sem perceber que o foco no que nos falta nos faz perder a alegria do que já conquistámos. E, nessa busca incessante por algo que não sabemos bem o que é, perdemos o hoje. E o hoje é tudo o que temos.
Se olharmos à nossa volta, perceberemos que as "flores" estão por toda a parte: amigos, família, pequenos momentos de beleza que a vida nos oferece a todo o instante. Mas, assim como as flores, eles não durarão para sempre. E, tal como o vento leva as pétalas caídas, o tempo leva as oportunidades que deixamos passar.
A nossa cultura, tão pautada no fazer, no ter, no acumular, raramente nos ensina a valorizar o ser. O ser no presente, o ser para os outros, o ser como parte de algo maior. Comparamos-nos com os que parecem ter mais, em vez de olharmos para aqueles que têm menos e, com isso, aprendermos a agradecer. No entanto, essa gratidão não precisa de ser uma renúncia ao desejo de crescer, mas sim uma forma de valorizar o caminho enquanto o percorremos.
A verdade é que, em algum momento, todos seremos levados pelo tempo. Não sabemos o dia nem a hora, mas sabemos que esse momento virá. A questão que fica é: como queremos olhar para trás quando esse momento chegar? Queremos ver uma vida cheia de arrependimentos ou uma vida rica em momentos bem vividos, em amor partilhado, em gestos que fizeram a diferença?
Ainda há tempo. Sempre há. O tempo é agora. Ainda podemos reparar as pontes que deixámos desabar, dizer as palavras que guardámos no fundo da alma, abrir o coração para aqueles que amamos e, sobretudo, para nós mesmos. O passado já se foi e não podemos mudá-lo. Mas o presente oferece-nos a oportunidade de construir um futuro diferente, onde cada flor à nossa volta seja apreciada, onde cada minuto seja vivido com consciência, onde cada gesto, por mais simples que seja, seja feito com o coração.
Porque, no fim, o que realmente importa não é o quanto acumulámos ou o quanto realizámos segundo os padrões do mundo, mas o quanto fomos capazes de amar, de nos abrir ao outro, de valorizar a simplicidade da vida. E, para isso, nunca é tarde.