Dorvalina
Era uma vez, numa cidade pequena e tranquila, uma varredora chamada Dorvalina. Todos os dias, ela varria as ruas com a sua velha vassoura de piaçava, mas, ao contrário de trazer limpeza e ordem, Dorvalina trazia caos, queixas e fofocas. Era conhecida por criar intrigas entre os vizinhos, espalhar mentiras e, pior de tudo, fazia isso apenas para atrair a atenção.
Dorvalina sentia-se invisível e, em vez de procurar a amizade sincera, preferia inventar histórias para estar sempre no centro das atenções. Quando dois amigos estavam conversando alegremente, ela logo se aproximava, fingindo ter ouvido algo errado.
"Sabes o que o João disse sobre ti?", cochichava ela no ouvido da Maria, com um olhar malicioso. "Ele disse que tu só falas de ti mesma, que és egoísta!"
Claro, isso não era verdade, mas Maria acreditava. E assim, o que era amizade tornava-se desconfiança. Dorvalina observava à distância, satisfeita com o resultado, pois agora ambos estavam brigando, e ela, no meio do conflito, parecia ser importante.
As pessoas da cidade começaram a perceber o padrão. Sempre que havia confusão, Dorvalina estava por perto, com a vassoura na mão e o sorriso disfarçado. Aos poucos, começaram a se afastar dela. Mesmo quando ela tentava ser simpática ou fazer um elogio, ninguém mais confiava. Sua presença tóxica era sentida antes mesmo que ela falasse.
Certo dia, Dorvalina percebeu que estava completamente sozinha. Ninguém a cumprimentava, ninguém parava para conversar. A cidade estava em silêncio para ela. As ruas que antes varria com tanta energia agora pareciam desertas, e o som da vassoura raspando o chão era a única companhia que lhe restava.
Sentada no banco da praça, com os olhos cheios de tristeza, Dorvalina refletiu. Toda a sua busca por atenção havia resultado exatamente no oposto. Ela conseguiu afastar todos, e agora, quando realmente precisava de alguém para conversar, não havia ninguém.
Ela começou a chorar, as lágrimas caindo silenciosamente no chão de pedras que ela varria todos os dias. Uma senhora idosa, que sempre fora a mais paciente da cidade, aproximou-se devagar e sentou-se ao seu lado.
"Dorvalina", disse a velha senhora, com uma voz gentil mas firme, "sabes, as pessoas não se afastam de ti porque não gostem de ti, mas porque não gostam do que fazes. Não é tarde demais para mudar."
Dorvalina levantou os olhos inchados e tentou protestar, mas a senhora a interrompeu com um sorriso. "Todos nós podemos mudar. Mas tens que ser honesta e pedir desculpas. Se continuares assim, estarás sempre sozinha."
Com o coração pesado, Dorvalina percebeu que a senhora tinha razão. Não seria fácil, mas era sua única chance. A partir daquele dia, ela começou a mudar. Passou a varrer as ruas em silêncio, sem se meter nas conversas alheias, deixou de fazer mal. Quando pedia desculpas, fazia-o com sinceridade.
Alguns vizinhos começaram a notar a diferença. Ainda desconfiados, mas pouco a pouco, as pessoas foram dando uma segunda chance. E Dorvalina, que antes usava as palavras para machucar, agora as usava para construir pontes. Não foi rápido, nem fácil, mas com o tempo, ela encontrou o que sempre quis: ser vista e amada, mas por quem ela era de verdade, e não pelas confusões que criava.
E assim, Dorvalina, a varredora que outrora espalhava poeira, intrigas e cuscava textos, espalhava boatos e fazia queixas, aprendeu a limpar não só as ruas, mas também o seu próprio coração.