Passado.

 O passado é, para mim, um livro de páginas amareladas pelo tempo, onde cada erro se converte numa frase de sabedoria que jamais se apaga. A cada linha que releio, percebo que os enganos que outrora me atormentaram são agora como pedras que pavimentam o caminho que me trouxe até aqui. São essas falhas, essas escolhas impensadas, que moldaram a força com que hoje enfrento o desconhecido. Se não tivesse tropeçado nas incertezas, não saberia o que é erguer-me com firmeza. Se não tivesse caído, não teria descoberto que sou capaz de levantar-me quantas vezes forem necessárias.

Há uma beleza inesperada em olhar o reflexo no espelho e ver ali, não a perfeição inatingível, mas a força resiliente de quem se atreve a viver. E ao fitar-me nos olhos, não vejo arrependimentos. O que vejo é uma mulher que abraça o seu passado com serenidade, que acolhe as suas falhas como mestres silenciosos. Sim, errei. Mas esses erros, longe de serem manchas indeléveis, são cicatrizes que contam histórias de superação, de aprendizagem, de coragem. Cada um deles ensinou-me que o medo de falhar é o verdadeiro inimigo, não o erro em si. E é nesse processo de cair e levantar que o crescimento ocorre, que a evolução floresce.

O que aprendi, talvez com mais dificuldade do que gostaria, é que o medo de errar é uma corrente que nos prende a um passado estagnado. Só quando nos libertamos desse receio, só quando encaramos os nossos erros de frente, conseguimos verdadeiramente aprender. E nesse aprender, há uma porta que se fecha para nunca mais ser aberta. Não se trata de negar o que passou, mas de transformá-lo em algo que nos fortalece. Aquela decisão, por mais errada que tenha parecido, era a decisão que precisava de ser tomada naquele momento. E por mais que o peso dessa escolha me tenha esmagado na altura, hoje sei que ela foi essencial para que me tornasse quem sou.

É fácil, terrivelmente fácil, cair na tentação de culpar os outros. De encontrar no outro uma desculpa conveniente para o peso das nossas escolhas. Mas a verdade, nua e crua, é que somos os únicos responsáveis pelos caminhos que trilhamos. Sim, outras pessoas cruzaram a minha história. Sim, as suas presenças influenciaram as minhas decisões. Contudo, no final, a responsabilidade é minha. Fui eu quem, com a pressa e o medo do imprevisto, decidiu virar à esquerda quando o coração talvez me pedisse para seguir em frente. Fui eu quem tomou a decisão no calor do momento, sem rede, sem ensaio.

E é esse o mistério, o milagre da vida: viver sem ensaios. Não há segunda oportunidade para refazer o que já foi feito. Não há como reescrever aquela escolha precipitada ou mudar o rumo que o passado tomou. E, no entanto, é precisamente essa imprevisibilidade que dá à vida a sua grandeza. O facto de vivermos sem uma rede que nos aparente o medo da queda é o que torna cada momento singular, irrepetível, precioso.

Hoje, ao refletir sobre o que fui, percebo que não há espaço para a culpa. Há apenas espaço para a aceitação. Cada erro foi uma peça de um puzzle que, aos poucos, revela uma imagem maior e mais complexa. E, nessa imagem, há uma certeza inabalável: continuo a aprender, continuo a crescer. E, acima de tudo, continuo a viver, sem receios de errar outra vez.

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