Abraço do tempo
Na vastidão serena da memória, encontro o meu refúgio, como se cada lembrança fosse um espelho cristalino do passado, a refletir o que vivi e o que sou. O tempo, esse artesão invisível, teceu cada fio da minha existência, com risos, lágrimas, vitórias e perdas, compondo a tapeçaria única da minha vida.
Cada história que guardo não é apenas uma sequência de eventos, mas um símbolo da transformação constante, onde o que fui se entrelaça com o que me tornei. Mergulho nas águas profundas da minha própria consciência, e, ao fazê-lo, sinto as emoções reverberarem como ondas em um lago tranquilo — algumas tempestades, outras apenas brisas suaves que acalmam o espírito.
No regaço da recordação, repouso a cabeça com a confiança de quem já atravessou desertos e tempestades. As gotas de amor que pingam dessas memórias são como bálsamos que, gota a gota, apaziguam as dores do ontem. A vida se revela uma dança entre o que passou e o que ainda está por vir, um ciclo que nos ensina que as cicatrizes são traços de força, não de fraqueza.
Há uma beleza intrínseca no continuar. Na curva da estrada que a vida desenha, há sempre novos horizontes, prontos para serem desbravados. Não importa quantas vezes caminhemos pelos mesmos trilhos ou quantas estradas desconhecidas se abram à nossa frente; o essencial é o movimento, o constante desdobrar do ser, o fluxo contínuo da existência.
Nesse processo, não há pressa. O tempo, com sua sabedoria silenciosa, ensina que tudo acontece no compasso certo, na medida exata. No abraço do tempo, encontro a paz que transcende a inquietação do “porquê” e do “quando”. Aqui, na quietude desse abraço, compreendo que o presente é o único lugar onde a plenitude realmente reside.
O passado já não pesa, mas se torna parte da leveza do agora. O futuro não é uma preocupação, mas uma promessa que se revela a cada novo passo que dou. E, no meio desse diálogo silencioso com o tempo, percebo que o verdadeiro mistério da vida não está no que está por vir, mas no simples ato de existir, de sentir, de ser — completamente, sem reservas, no momento presente.
Aqui, no abraço do tempo, sou inteira, sou eterna.