Nas Sombras da Saudade

Os dias passam, inexoráveis como as ondas que se quebram na costa, e, num primeiro momento, convenço-me de que estou a conseguir. A rotina ensina-me a disfarçar a dor, as lágrimas tornam-se um eco distante, uma lembrança de um tempo que não voltará. Contudo, há momentos em que, em conversas dispersas, a verdade me atinge como um raio, e percebo que estou a desvanecer, a desaparecer na neblina da ausência.

Recordo-me da tua presença, das formas como o teu sorriso iluminava até os dias mais cinzentos. A maneira como caminhavas, o tempo que dedicavas a ensinar-me tudo o que sabes, tudo o que um dia foi nosso. Pergunto-me, como é que se segue em frente quando a alma se agarra a cada recordação como se fossem âncoras de um barco à deriva?

Neste instante, apercebo-me de que estou a transformar-me em tudo aquilo que abomino. O desejo de ter-te de volta consome-me, mas é um desejo demasiado tardio. A mente tornou-se uma prisão, um labirinto de memórias onde a tua sombra ainda se faz sentir, como um fantasma que não se despede. Cada pensamento, cada suspiro, leva-me de volta a ti, e é um peso que não consigo suportar.

Por vezes, anseio por um dia em que possa desejar que tudo desapareça. Um dia chuvoso, onde a melancolia se funde com a saudade, onde a chuva se torna uma amiga íntima, a única que compreende a minha dor. Uma oportunidade para ver-te mais uma vez, mesmo que apenas por um breve momento, como se pudéssemos reverter o tempo, mesmo que por um dia.

Estou completamente desfeita sem a tua presença. A ausência tornou-se um fardo insuportável desde que partiste. Tentei, de todas as formas, enterrar este lamento profundo, mas, ao refletir, percebo que, na verdade, já estava desfeita antes mesmo de te perder. A luta para reconstruir-me é diária, e cada dia é uma batalha contra a memória que insiste em se reiterar.

Dizem que o tempo cura todas as feridas, que a dor se desvanece como uma névoa ao amanhecer, mas, para mim, a verdade é cruel. Cada pequeno detalhe da vida parece estar entrelaçado com a tua essência, como um fio invisível que liga o passado ao presente. E a dor, ah, ela chega em ondas, como o mar que se precipita contra as rochas, devastadora e implacável.

Lembro-me da tua risada, um som tão vívido que, mesmo agora, faz tremer as paredes do meu coração. Recordo os momentos em que as tuas espáduas tremiam de alegria, cada gargalhada era um hino à vida. Como poderia eu seguir em frente sem o teu riso para me guiar? E, mais uma vez, pergunto: como é que se avança quando o que se mais deseja é voltar atrás?

As sombras do arrependimento e da frustração espreitam por trás de cada esquina da minha mente. Pondero sobre as palavras que deixaste, tão sábias, tão vivas, um eco do passado que me acompanha nas noites mais sombrias. “Não te deixes prender na lama do arrependimento”, dizias, como se pudesses ver através da neblina que encobre o meu entendimento. E, mesmo assim, a cada dia que passa, a tristeza parece aprofundar-se, enquanto a vida continua a seguir o seu curso indiferente.

Em cada momento em que chego à beira do abismo emocional, lembro-me da vida que viveste, da forma como abraçavas a existência com uma paixão quase avassaladora. Lembro-me da coragem que sempre demonstraste e do teu mantra inabalável: “Siga em frente, amada, não te deixes vencer”. Prometeste que um dia nos encontraríamos novamente, e essa promessa é o que me mantém, de algum modo, à tona.

Oh, como eu anseio por esse reencontro! Anseio por um dia chuvoso, em que a melancolia se transforme em consolo, onde as lágrimas que caem são apenas a expressão da saudade que nunca se apaga.

Neste momento, no crepúsculo da dor, percebo que, mesmo desfeita, a vida continua a ser um presente. E mesmo sem ti, sei que preciso encontrar a força para levantar a cabeça, para enfrentar o mundo que nos separou.

Sim, sou uma naufraga numa maré de emoções descontroladas, mas, ao mesmo tempo, guardo a esperança de que, um dia, poderei olhar para trás e ver não apenas a dor, mas também a beleza da nossa história. Até lá, permaneceremos entrelaçadas, tu na memória e eu na busca incessante pela luz que um dia trouxeste ao meu ser.







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