Soluções... talvez
A vida, tal como a conheço, apresenta-me agora um dilema que há muito venho a ponderar, uma inquietação silenciosa que se foi entranhando na minha alma, consumindo lentamente a serenidade que outrora julgava minha por direito. Cada canto deste lugar, outrora repleto de memórias e significados, parece agora vazio de essência, como se a luz que um dia brilhou intensamente tivesse cedido ao peso das sombras.
Não é fácil admitir que o que um dia foi lar, abrigo de sonhos e testemunha silenciosa de tantas histórias, possa ter perdido o seu encanto. No entanto, a realidade impõe-se, implacável. Chego, assim, à conclusão de que talvez seja chegada a hora de partir, de procurar noutras paragens aquilo que aqui já não encontro: a paz, o descanso, a tranquilidade que tanto almejo para o tempo que me resta.
Decisão esta que, em verdade, não se toma sem dor. É com um aperto no peito que contemplo a ideia de deixar para trás o solo onde as minhas raízes se cravaram profundamente, onde se ergueram os alicerces da minha existência. Mas o coração, esse, clama por sossego, por um refúgio onde a tormenta do espírito possa, finalmente, acalmar. E, por vezes, há que ter a coragem de ouvir o que ele sussurra, ainda que isso implique despedidas amargas.
Mudança. Palavra que carrega em si um peso que me aflige, mas que também encerra a promessa de renovação. E se, por ventura, esta mudança for a chave para abrir as portas de uma nova paz? Talvez noutro país, longe dos fantasmas que aqui me assombram, consiga encontrar um recanto onde possa, finalmente, repousar a mente cansada e sarar as feridas do tempo.
Não quero esta partida, pois ela traz consigo o luto antecipado de tudo o que conheci, amei, e de que me vou despedir. Contudo, sou compelida a aceitar que, por vezes, para se alcançar a verdadeira paz, é necessário renunciar ao conforto do conhecido e aventurar-se no incerto, mesmo que isso signifique deixar para trás o solo que sempre chamei de meu.
E assim, nesta encruzilhada da vida, pondero a despedida, não apenas das ruas e paisagens familiares, mas de uma parte de mim que aqui ficará, enraizada para sempre. No entanto, se a nova terra me oferecer a serenidade que tanto procuro, então, talvez, esta partida não seja uma fuga, mas sim uma busca — uma busca por um fim mais sereno, onde o meu espírito possa, finalmente, repousar em paz.
Despeço-me,se for essa a decisão final, portanto, deste lugar, não com rancor, mas com a melancolia de quem sabe que, para encontrar a luz, é necessário afastar-se das sombras que a obscurecem. Que o destino me conduza para onde eu possa, enfim, reencontrar-me com a tranquilidade perdida.