Materialismo e Felicidade: Um Olhar Filosófico e Psicológico sobre a Sociedade Atual
Como mulher que reflete sobre o papel da sociedade moderna e os desafios que enfrentamos, vejo com clareza a tendência preocupante de valorizarmos excessivamente os bens materiais em detrimento de valores mais profundos. A filosofia, a sociologia e a psicologia oferecem lentes importantes para compreendermos esse fenômeno, que não se restringe à esfera religiosa, mas atravessa as dimensões mais fundamentais da nossa existência.
Do ponto de vista filosófico, pensadores como Aristóteles já nos alertavam para a busca do eudaimonia, a felicidade plena, que se alcança não através do acúmulo de bens materiais, mas pela realização do bem e pelo cultivo das virtudes. No entanto, na sociedade contemporânea, essa busca foi distorcida, e a felicidade passou a ser erroneamente associada ao consumo e à posse de objetos que, em última instância, são efêmeros. Tornamo-nos, como dizia o filósofo Zygmunt Bauman, uma "sociedade líquida", onde os valores são fluídos, instáveis, e o materialismo assume o protagonismo.
A sociologia nos ensina que esse comportamento está profundamente enraizado na estrutura social em que vivemos. A cultura do consumo, impulsionada pelo capitalismo, cria e reforça a ideia de que o sucesso e a felicidade estão ligados ao status social, frequentemente medido pelo que possuímos. Assim, os bens materiais tornam-se símbolos de prestígio, e, em uma sociedade competitiva, muitos de nós acabam por internalizar a crença de que a realização pessoal depende do reconhecimento alheio, obtido através da ostentação. Durkheim, ao estudar as normas sociais, destacou como o coletivo molda as crenças e práticas individuais, e nesse contexto, a ostentação material se transforma em um comportamento quase normativo, legitimado pela cultura.
No campo da psicologia, essa busca incessante pelo materialismo tem consequências profundas para o bem-estar emocional e mental. O psicólogo Abraham Maslow, com sua teoria da hierarquia das necessidades, sugere que a satisfação das necessidades básicas, como segurança e pertencimento, precede a busca pela autorrealização. Porém, ao confundirmos essa busca com o acúmulo de bens materiais, acabamos por negligenciar as necessidades mais profundas de conexão humana, propósito e crescimento pessoal. O materialismo, como mostram estudos contemporâneos, frequentemente leva a um ciclo de insatisfação, pois os bens que adquirimos não conseguem suprir nossas necessidades emocionais mais fundamentais.
Dessa forma, ao priorizarmos o dinheiro, os bens de consumo, e o prestígio social que eles trazem, não só nos afastamos da verdadeira felicidade, mas também transmitimos aos nossos filhos uma visão de mundo distorcida. Eles crescem aprendendo que o valor de uma pessoa está no que ela possui, e não em quem ela é ou nas relações significativas que constrói. A psicologia positiva, que enfatiza a importância de relações saudáveis e de uma vida com propósito, mostra que a verdadeira felicidade é alcançada por meio de experiências gratificantes de partilha, de amor e de conexão com os outros.
Portanto, é crucial que revisitemos nossos valores e práticas, compreendendo que a verdadeira realização não está no "ter", mas no "ser". Só assim poderemos construir uma sociedade mais saudável e equilibrada, onde a felicidade não seja um produto, mas o resultado de uma vida vivida com sentido e em harmonia com os outros e conosco mesmas.