A barriga 😂😂😂😂
Estava eu, uma mulher cuja inteligência e bom gosto não conhecem limites, a ouvir uma cobra, não uma literal, claro está, mas uma figura metafórica de proporções sibilantes, a destilar palavras com a mesma suavidade com que o veneno percorre as presas de uma vÃbora. Era uma tentativa débil, ainda que enredada em falsidades, de manipular uma opinião sobre um assunto que, sinceramente, não me interessava minimamente. Não seria a primeira vez que me deparava com semelhante tentativa de persuasão, mas naquele dia, estava particularmente bem-disposta. O casaco da Ana Sousa e o vestido da Pull & Bear que envergava contribuÃam para o meu bom humor, diga-se de passagem. Sempre tive o olho afiado para a moda, e aquele vestido, em particular, não era para qualquer uma. "Este vestido não é para quem tem barriga", soltei, com uma dose saudável de arrogância. O conselho, deixei-o no ar, como quem sabe que oferece uma pepita de ouro aos desprovidos.
O problema começou quando uma das assistentes ao meu comentário, pessoa de limitado entendimento e possivelmente agrilhoada pelos seus próprios complexos, achou por bem partilhar a sua perspetiva com a delicadeza de um elefante numa loja de porcelanas. “A senhora deu-te uma boca”, disseram-me, como se eu precisasse de tradução para algo tão corriqueiro. Quando finalmente me foi transmitido o comentário, a reação natural seria rir, claro. Quem não o faria diante de tamanha demonstração de tacanhez? A dita boca era uma afirmação tola, desprovida de qualquer perspicácia, e a sua pequenez intelectual causou-me um acesso de riso que ainda persiste.
Contudo, o que passou-se foi digno de uma tragédia grega de segunda categoria, ou talvez de uma comédia grotesca mal ensaiada para um teatro de aldeia. Uma senhora, com a solenidade, disse: “Gosto do vestido.” Ao que a outra, tentando soar inteligente e falhando miseravelmente, respondeu: “Este pode ser usado por quem tem barriga.” A pobre coitada não percebeu que, ao pronunciar tal enormidade, não fez mais do que selar o seu próprio ridÃculo. Ainda me pergunto se a infeliz está ciente da falta de nexo que a sua frase contém, ou se vive na ignorância abençoada daqueles que nunca se questionam. Agradeço imenso o ter me dado razão e ofender -se a si própria
A esta situação só me ocorre aplicar uma análise meticulosa e desprovida de piedade. A pequenez de espÃrito demonstrada foi nada menos que risÃvel, uma caricatura viva da falta de autocrÃtica e de compreensão do outro. A inteligência, ou a falta dela, foi gritante, ecoando no meio da multidão como um sino desafinado. E quanto à racionalidade, nem vale a pena perder tempo com tais efemeridades. Resta-me concluir que o ridÃculo de certas pessoas é um espetáculo gratuito que nos é oferecido para nosso deleite, e quem sou eu para rejeitar tamanha dádiva?