"Confissões de uma Peregrina Desalojada: Amor, Fé e Humor Negro"
Eu não pertenço a este mundo. Aliás, pertenço tanto a ele quanto uma melancia pertence a um sushi: de forma totalmente deslocada. Enquanto uns correm atrás do dinheiro como se fossem galinhas sem cabeça, eu estou aqui, a tentar fazer sentido num mundo que parece não querer ser entendido. Não sou daquelas que mantém casamentos por conveniência ou que se agarra ao vil metal como se a vida dependesse disso – embora, claro, todos saibamos que o pão não cai do céu, e a integridade não paga a conta da eletricidade.
Nasci peregrina. Se pudesse escolher, seria mais do tipo que caminha pela Terra Santa, mas, sinceramente, sou mais do género que se perde na esquina de casa. E não falo só de lugares, mas da vida como um todo. Peregrino no coração, na alma, na fé. É como se eu estivesse num eterno "Caminho de Santiago" da vida, uma busca incessante por amor, fé e, quem sabe, um café decente. Sim, é verdade que me falta tempo, mas não me importo – afinal, só se vive uma vez, e eu prefiro gastar esse tempo a ser verdadeira comigo mesma do que a ser uma figurante numa novela de baixo orçamento.
Acho que tenho o coração de uma sem-abrigo. E por quê? Porque, tal como eles, não me apego a paredes. Para mim, a liberdade é um teto mais valioso do que qualquer mansão, e a minha integridade é o cobertor que me protege do frio do mundo. Mas não pense que sou apenas uma romântica desenraizada, uma espécie de poeta sem casa. Também tenho o meu lado negro – humor negro, diga-se. É que, neste mundo que parece uma sitcom mal escrita, às vezes a única saída é rir das desgraças.
Por exemplo, tenho pouco tempo de vida. Mas, francamente, quem não tem? É que, com o coração de uma sem-abrigo, o tempo é uma moeda que gasto com generosidade, sem pensar se vai acabar amanhã ou daqui a trinta anos. A vida é uma espécie de saldo em loja: ninguém sabe quando a promoção termina. Portanto, vou vivendo, rindo e continuando a minha peregrinação, porque, no fim das contas, a única bagagem que levo é o amor que dou e recebo.
E, entre nós, prefiro ser uma sem-abrigo do que viver presa num palácio de convenções vazias. Afinal, quem disse que o amor não é suficiente para nos manter quentes à noite? Certamente não era uma sem-abrigo com um coração como o meu.