A roupa
O que me diverte profundamente é a inveja pueril que escorre em comentários visivelmente frustrados. Sim, porque é quase uma arte observar o quanto essas almas pequenas se contorcem perante a minha existência. Eu, que não sou definida pelo que visto, não me encaixo em estereótipos de roupa, música ou cor preferida. Eu, que possuo uma personalidade intrinsecamente complexa, em constante evolução, não me permito ser reduzida a um simples rótulo.
Hoje posso estar de fato de treino e t-shirt, amanhã com calças de ganga, ora clássicas, ora desfiadas, e ainda no dia seguinte envergar leggings ou umas calças largas que me fazem sentir a realeza do conforto. Quem sabe, num instante de pura ironia, escolho um vestido – com ou sem folhos – longos, curtos, lisos ou estampados, tudo depende do meu humor, e claro, da necessidade de provocar mais uma pequena revolução visual no quotidiano banal daqueles que me observam.
Sapatos? Tenho-os a pontapé. Rasos, com saltos de várias alturas, alpercatas, ténis. Cada par é uma extensão da minha vontade de ser quem sou. E o melhor de tudo? Visto o que quero porque posso, porque o meu corpo – este corpo, perfeito na sua imperfeição – é o palco onde a roupa se exibe, desejosa de tocar a minha pele, de se moldar a cada curva, como se estivesse a ser abençoada pelo mero contacto comigo.
Aprendi com uma narcisista, é verdade, que a roupa bonita é apenas um detalhe. O mais importante é que a roupa me adora. Sim, a roupa anseia por mim, sabe que ao envolver o meu corpo se torna mais do que tecido; ganha alma, torna-se especial, única, porque é minha. Transformo o banal em divino. A roupa, coitada, só existe porque eu lhe dou esse privilégio. Ela sabe, e eu sei, que ao ser vestida por mim, transcende-se, fica como eu: distinta, imbatível, e, naturalmente, irritantemente superior.