Idolatria
Sou uma mulher católica, considero de extrema importância esclarecer a questão frequentemente mal interpretada da idolatria no contexto da nossa fé. Muitos acusam os católicos de praticarem idolatria devido ao uso de imagens em nossa devoção. Contudo, essa acusação revela um profundo equívoco sobre a natureza e o propósito dessas imagens na nossa tradição religiosa.
Primeiramente, quero sublinhar que, enquanto católicos, seguimos rigorosamente o primeiro mandamento, que nos ordena: "Não terás outros deuses diante de mim. Não farás para ti imagem de escultura, nem semelhança alguma do que há em cima nos céus, nem embaixo na terra, nem nas águas debaixo da terra" (Êxodo 20:3-4). Este versículo, frequentemente citado, é usado para condenar o uso de imagens, mas, para nós, o que importa é o entendimento completo do seu contexto e do que Deus realmente proíbe.
A palavra "idolatria" refere-se à adoração de ídolos, de objetos ou de qualquer coisa que não seja o próprio Deus. Na nossa fé, adoramos unicamente a Deus, Pai, Filho e Espírito Santo. A adoração, que implica a entrega total da nossa alma e o reconhecimento de Deus como o único e supremo Senhor, é devida exclusivamente à Santíssima Trindade. As imagens que temos nas nossas igrejas, como as da Virgem Maria, dos santos ou de Cristo, não são adoradas; são veneradas. Esta distinção é crucial: a veneração é um sinal de respeito e honra, não de adoração.
Para fundamentar esta prática, é essencial recordar a Arca da Aliança, como descrita no Antigo Testamento. A Arca, que continha as tábuas dos Dez Mandamentos, era adornada com querubins esculpidos em ouro (Êxodo 25:18-22). Este fato demonstra que Deus, ao ordenar a construção da Arca, não proibiu o uso de imagens em si, mas a idolatria — a atribuição de poder divino a qualquer coisa que não Ele.
Além disso, recordo o episódio da serpente de bronze, ordenada por Deus a Moisés para curar os israelitas das mordidas venenosas (Números 21:8-9). Esta serpente, uma imagem, não foi criada para ser adorada, mas serviu como um sinal de cura e um símbolo do poder salvador de Deus. Jesus Cristo, mais tarde, utiliza esta mesma imagem como prefiguração da Sua crucificação, dizendo: "E, como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do homem seja levantado" (João 3:14).
Deste modo, as imagens na nossa fé funcionam como instrumentos pedagógicos e de memória, apontando sempre para a realidade divina que representam. Quando veneramos uma imagem de Cristo crucificado, por exemplo, não é à imagem material que nos dirigimos, mas ao próprio Cristo, cuja presença ela nos lembra e cuja obra redentora ela simboliza.
Portanto, a prática católica não pode ser adequadamente compreendida se for vista através de uma interpretação superficial e literalista dos mandamentos. O que importa é o reconhecimento de que apenas Deus é digno de adoração, enquanto as imagens servem para nos ajudar a meditar nos mistérios da fé, a honrar aqueles que foram exemplos de santidade e, acima de tudo, a aprofundar a nossa relação com o Senhor.