Não me toque!

 O toque, em sua essência, é uma manifestação profunda do sentido do tato, uma forma de conexão que vai além da simples percepção física. Através dele, somos capazes de sentir as texturas, as temperaturas, a suavidade ou a aspereza do mundo que nos rodeia. Contudo, o toque não se limita ao domínio sensorial; ele transcende para o campo emocional, onde assume significados ainda mais profundos e complexos.

Na minha experiência, o toque pode tanto curar quanto ferir. Gestos como abraços, beijos ou carícias, que em circunstâncias normais expressam carinho e proximidade, podem tornar-se insuportáveis quando emanam de quem nos magoou profundamente. Só repudiei o toque de duas pessoas na minha vida, mas esses repúdios foram intensos e marcantes. Aversão à falsidade e à falta de humanidade são sentimentos que, uma vez despertados, ferem a alma de maneira profunda. As dores na alma, essas que não se veem mas se sentem com uma intensidade avassaladora, são como feridas invisíveis que corroem o espírito. São sofrimentos que ressoam em silêncios perturbadores, que não encontram alívio nas palavras ou nos gestos alheios.

A mágoa infligida por essas pessoas transformou o que poderia ser um gesto de reconciliação num lembrete cruel da dor que me causaram. O toque, antes fonte de conforto, passou a ser um catalisador de lembranças amargas, revelando-se insuportável. Esse repúdio, portanto, não é apenas uma rejeição física, mas também uma proteção emocional, uma barreira que se ergue para preservar a integridade da minha alma.

Vivo agora com a consciência de que o toque, tão ambíguo e multifacetado, carrega em si o poder de aproximar ou afastar, de curar ou machucar. E, no que toca àqueles que me feriram, a aversão ao seu toque é a expressão mais pura da defesa da minha dignidade e do meu amor-próprio. É um testemunho silencioso de que a alma, quando ferida, encontra nas suas próprias cicatrizes a força para se proteger, para não permitir que a falsidade ou a desumanidade toquem novamente as suas fibras mais íntimas.








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