Rezo

 Caros leitores, permitam-me iniciar esta reflexão com a mente aberta e o espírito elevado, convidando-vos a acompanhar-me numa introspeção que transcende as banalidades do quotidiano. No âmago da minha essência, reside um princípio inabalável: jamais me permito ceder aos impulsos mesquinhos da inveja ou da depreciação alheia, mesmo quando confrontada com uma inteligência que me supera, uma estética que me encanta, ou uma virtude que me desafia.

Quando me deparo com um ser dotado de uma mente brilhante, ao invés de proferir comentários pueris e fúteis, entrego-me ao exercício da autoelevação. A sua inteligência é um farol que guia o meu próprio intelecto para horizontes mais vastos e mais profundos. Assim, rezo um Pai Nosso, não apenas como um pedido de proteção contra os sentimentos negativos que poderiam emergir, mas como um voto de gratidão por ter sido exposta a tal luminescência intelectual. Cada encontro com a genialidade é uma oportunidade de aprendizagem, um convite à humildade e ao crescimento.

Se a sorte me coloca diante de alguém cuja indumentária ostenta originalidade e elegância, aplaudo em silêncio a sua ousadia e criatividade. Não me deixo cair na tentação de imitar, muito menos de depreciar. Em vez disso, rezo duas Aves Maria, reconhecendo a beleza da individualidade e fortalecendo o meu compromisso com a autenticidade.

A contemplação de um corpo esculpido com graça e sensualidade não desperta em mim a necessidade de denegrir ou rebaixar. Antes, encaro tal visão como um incentivo à minha própria jornada de bem-estar físico e espiritual. Rezo três Aves Maria, que são para mim uma ode à resiliência e à perseverança, virtudes indispensáveis para alcançar qualquer forma de excelência.

Nas artes da escrita, quando me deparo com uma pena afiada e uma mente criativa, não permito que a sombra da inveja obscureça o brilho alheio. Longe de mim subtrair o mérito que é devido, prefiro enveredar pela prática diligente, na esperança de, um dia, alcançar patamares semelhantes. Rezo quatro Aves Maria, confiando que a devoção ao esforço será recompensada.

Quanto à beleza, essa qualidade tão subjetiva e delicada, aprendi a contemplá-la sem lançar julgamentos precipitados ou cruéis. Aprecio cada traço que agrada aos meus olhos, sabendo que a fealdade é um conceito fugaz e relativo. A aceitação é o caminho que escolho, seguido por cinco Aves Maria, as quais são pronunciadas com a serenidade de quem aceita a diversidade estética com alegria e respeito.

A integridade, essa virtude rara e inestimável, merece de mim não apenas a mais profunda admiração, mas também a mais sincera deferência. Nunca cairia na tentação de caluniar aquele que se mantém fiel aos seus princípios. Em vez disso, rezo seis Aves Maria, pedindo força para seguir o mesmo caminho de retidão.

A honestidade, por sua vez, é um tesouro que jamais tentaria adulterar com mentiras ou falácias. Ao reconhecer a verdade na outra pessoa, rezo sete Aves Maria, como um ato de reverência à clareza e à transparência, qualidades que prezo e que procuro cultivar em mim.

Quando me deparo com o altruísmo, essa manifestação sublime do amor ao próximo, sou inspirada a transcender o egoísmo e a contribuir, ainda que modestamente, para o bem comum. Rezo nove Aves Maria, uma oração que simboliza o meu compromisso em aprimorar-me continuamente e em viver uma vida de serviço aos outros.

Por fim, quando encontro uma alma cuja totalidade me enche de admiração, não cedo à tentação de afastar ou de isolar aqueles que não correspondem às minhas expectativas. Rezo dez Aves Maria e um Pai Nosso, rogando por mim e pela pessoa que tanto admiro, pedindo não apenas para ser digna dessa admiração, mas também para que a nossa relação seja pautada pela verdade, pela generosidade e pelo respeito mútuo.

Neste percurso de autoconhecimento e de superação, as minhas orações tornam-se não apenas um refúgio espiritual, mas um manifesto de humildade e de aspiração contínua à nobreza de caráter. É assim que escolho viver, com o coração aberto e o espírito elevado, sempre em busca de ser melhor, nunca em detrimento do outro, mas em harmonia com os valores que realmente importam.

Sei bem que algumas almas, ao tomarem nota destas minhas reflexões, poderão acabar por rezar vários rosários por dia. E sabem que mais? É ótimo. Enquanto rezam, não fazem mal a ninguém e, pelo contrário, elevam o espírito a patamares de serenidade e compaixão. Nesse processo de introspeção e devoção, afastam-se das tentações mesquinhas e dedicam-se a um caminho de elevação moral, contribuindo, assim, para um mundo mais harmonioso e repleto de boas intenções. Eu como católica praticante todos os dias rezo o terço, mas como humana falho e rezo.

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