Alívio
É com um profundo sentido de alívio e satisfação que observo a forma como o meu filho tem gradualmente substituído as recordações da sua anterior experiência escolar por novas vivências que, manifestamente, têm contribuído para o seu bem-estar emocional. Este processo de esquecimento seletivo, ou melhor, de ressignificação, evidencia uma capacidade notável de adaptação, característica fundamental do desenvolvimento infantil saudável.
A constatação de que ele já não reconhece os antigos colegas, nem se lembra com clareza das figuras que outrora desempenharam papéis significativos no seu quotidiano escolar, demonstra que o seu apego a essas memórias tem vindo a diluir-se. De igual modo, a sua incapacidade de identificar lugares ou mesmo de recordar com precisão a aparência da sua antiga professora, a qual apenas associa a uma vaga memória de mal-estar, sugere que a carga emocional negativa associada a essas recordações se desvaneceu consideravelmente.
Esta progressiva amnésia, que não distingue entre recordações boas e más, traduz uma reconfiguração do seu mundo interno, onde as novas experiências, repletas de alegria e satisfação, suplantam as antigas memórias. Este fenómeno, longe de ser preocupante, é antes um reflexo do seu mecanismo de defesa natural, que visa protegê-lo e promover o seu ajustamento a um novo ambiente, mais favorável e seguro.
Com efeito, esta evolução permite-me, como mãe, considerar o retomar de determinadas rotinas previamente evitadas, por receio de reavivar lembranças dolorosas. A possibilidade de frequentar o parque nas proximidades de casa, ou de participar em festividades locais, sem que ele demonstre qualquer vestígio de tristeza ou desconforto, é um claro indicativo de que o seu processo de cura está a decorrer de forma positiva.
Este distanciamento emocional relativamente ao passado, que se manifesta até na sua incapacidade de reconhecer locais anteriormente associados a experiências menos felizes, revela-se assim um fator encorajador. Poderia argumentar-se que a ausência de memória ativa sobre estas situações lhe proporciona uma nova liberdade, permitindo-lhe desfrutar plenamente do presente, sem a sombra do que foi.
Deste modo, sinto-me encorajada a permitir que ele explore e usufrua destes espaços e eventos, na esperança de que construa novas memórias, agora profundamente ancoradas no bem-estar e na felicidade que estas novas experiências lhe proporcionam. A observação atenta e cuidadosa das suas reações continuará a guiar as minhas decisões, garantindo que cada passo dado seja no sentido de consolidar o seu desenvolvimento emocional saudável e equilibrado.