Quando o Sistema Não Vê: A História de um Menino Brilhante e a Escolha pela Paz

 Com três anos, o Alexandre lia fluentemente. Fazia contas mentais complexas, falava inglês com naturalidade e tinha um fascínio por ciência e história que desconcertava até adultos. Era, desde cedo, evidente: não era apenas uma criança inteligente — era uma criança sobredotada.

Mas ser sobredotado, em Portugal, é muitas vezes carregar uma condição invisível. Em vez de portas abertas, surgem barreiras. Em vez de estímulo, surgem rótulos. E no lugar do acolhimento, surge a desconfiança.

Logo no início do percurso escolar, o Alexandre encontrou resistência. Não foi reconhecido. Pior: foi mal interpretado. Tentaram "normalizá-lo", encaixá-lo numa estrutura rígida e desenhada para a média. Chorava com frequência. Dizia-me: “Só queria ser como os outros.” Doía-me vê-lo assim, não por não ser igual — mas por desejar apagar o que o tornava extraordinário para poder pertencer.

Teve um momento de esperança. Uma professora pareceu vê-lo — escutá-lo, aceitá-lo. Acreditámos por instantes. Mas foi breve. Uma acusação injusta, nascida sabe-se lá de que jogos entre adultos, feriu-o profundamente. Acusaram-nos de fazer queixas, de mover reclamações, de criar um “problema”. Sinceramente, já nem sei ao certo de onde partiu tudo. Nem me interessa. O que sei é que ele foi usado como peão numa disputa que nunca devia tê-lo envolvido.

Mais grave ainda, essa professora, em vez de proteger, perpetuou. Levou a sua versão, contaminada e falsa, até ao novo estabelecimento. E ao que parece, continua a minar, a espalhar inverdades. Acredita quem quer. E quem acredita, não me interessa. Eu escolhi não responder, não confrontar, não justificar mais nada. Já justifiquei tudo o que tinha a justificar.

Felizmente, a vida não se limita à sombra de quem não sabe ver.

Na nova escola, o Alexandre encontrou o oposto: discrição, profissionalismo, humanidade. Não houve perguntas invasivas, nem julgamentos prévios. Nunca me senti observada. Ele não sentiu nada — e isso, para mim, diz tudo. A leveza com que foi recebido só pode vir de um lugar de verdadeira maturidade institucional.

Hoje, o Alexandre floresce. Tira boas notas, cumpre regras, é educado, responsável — e sobretudo, é ele próprio. Voltou a sorrir com sinceridade. E eu, enquanto mãe, encontrei finalmente aquilo que mais procurava: paz, estou tranquila sei que o pessoal docente é exímio. 

Estudos em neurociência ajudam-nos a perceber o que os olhos muitas vezes não vêem. Crianças sobredotadas têm maior intensidade emocional, maior sensibilidade neurológica e um sentido de justiça profundamente enraizado. São vulneráveis ao desprezo, ao desentendimento, à má fé. Uma ferida causada por um adulto de referência — uma traição emocional — pode deixar marcas profundas e duradouras. O cérebro destas crianças funciona com um ritmo diferente, mas exige, acima de tudo, segurança para que possa desenvolver-se plenamente.

A escola, infelizmente, falhou-nos nesse papel. Mas a família não. Em casa, damos-lhe o que sempre precisou: confiança, estabilidade, liberdade de pensamento e amor sem filtros. Não precisamos que o mundo inteiro compreenda — basta que ele se sinta compreendido aqui.

A quem ainda acredita em rumores, em distorções, ou em histórias contadas pela metade, deixo apenas o silêncio. Porque quem encontra paz, deixa de precisar de explicações. A quem semeou dúvidas, desejo que um dia compreenda. E se não compreender, que siga em frente, como eu segui.

O Alexandre é feliz. E essa, no fim, é a única resposta que interessa.



Nota:

Eu não tenho problema nenhum em escrever, verdades, espero que este pequeno texto seja  satisfatório e responda as perguntas efetuadas via email. Grata ao novo estabelecimento e também não tenho nada contra ninguém do passado. Tudo está perdoado e bem resolvido. Em breve se for de vontade dá maioria dos que perguntaram, posso fazer um texto satírico intenso e com muita comédia. Fica a ideia! 

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