Está à espera

Está à espera que eu procure,

que volte atrás no tempo e no gesto,

que reabra portas já seladas pelo silêncio.

Está à espera que eu contacte,

que diga palavras que curem

feridas que não fui eu a abrir.


Está à espera que eu admita,

culpas que não me pertencem,

fragilidades que não nego — mas que também não te dei.

Está à espera que perdoe,

que esqueça o que não soubeste valorizar,

que apague a dor com um toque de memória suave.


Está à espera que fique imóvel,

que não mude, que continue a ser

o reflexo de uma amizade que já não reconheço.

Está à espera que eu não evolua,

que eu sinta falta, que me perca em saudade,

como se isso fosse prova de amor.


Está à espera que eu me cale,

que guarde o que dói,

que te absolva no meu silêncio.

Está à espera de tudo —

do que dei, do que não dei,

e até do que já não tenho para dar.


Mas amizade é caminho de dois,

e tu esqueceste os teus passos.

Eu esperei, esperei demais,

e no fim, perdi-me na tua ausência.

Agora sou eu quem escolhe.

Sou eu quem termina.


Porque tenho de ser eu.

A libertar-me da espera,

a resgatar a minha voz,

a seguir em frente,

sem culpa, sem mágoa,

com verdade no coração.



Nota final:

Este poema foi escrito no dia 14 de janeiro  de 2024.

Decidi publicá-lo porque é bonito, diz-me muito e, acima de tudo, porque posso. Porque a palavra é minha, e agora, finalmente, também a escolha é.

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