Manual do Crente Moribundo
Como Morrer Espiritualmente em 7 Passos Simples
Pare de pensar.
Pensar é o início da apostasia. Questione nada. A fé dos moribundos se alimenta de frases prontas e versículos vomitados em série, sem contexto, sem sentido, mas com certeza. Não busque entender — busque decorar.
Confunda histeria com unção.
Chore. Grite. Caia. Repita “fogo!” até parecer que está pegando. Não importa se sua alma está morta por dentro — desde que o teatro esteja vivo, o céu estará satisfeito (ou pelo menos o "pastor" estará).
Desconfie de tudo, menos da sua bolha.
Ateus? Servos de Lúcifer. Católicos? Idólatras. Espíritas? Feiticeiros. Muçulmanos? Terroristas. Evangélicos de outra denominação? Lobos. Só você e seu "pastor" têm a senha do Wi-Fi celestial.
Faça da Bíblia uma arma.
Não leia para crescer — leia para julgar. Use o Antigo Testamento como munição moral e o Novo como legenda para selfie com o copo de ceia. Lembre-se: mais vale uma condenação bem dada do que uma dúvida bem refletida.
Espiritualize tudo.
Depressão? Falta de fé. Pobreza? Maldição hereditária. Morte? Mistério de Deus. Sucesso alheio? Inveja maligna. Questionamento? Rebeldia. Se tudo é espiritual, nada é sua culpa.
Consuma fé como produto.
Seja cliente fiel. Pague seu dízimo como quem paga mensalidade para o céu. Participe dos cultos como quem vai à academia: presença vale mais que progresso. E claro, compartilhe tudo nos stories — para que sua santidade nunca passe despercebida.
Mate-se em nome de Deus.
Não com veneno, mas com conveniência. Mate seu senso crítico. Sua empatia. Sua coragem. Sua voz. Mate tudo que o faria ser humano — e se torne mais um zumbi "evangélico" a serviço do “Senhor”, que você nem conhece, mas já representa.
Epílogo: O funeral da alma não tem caixão. Só púlpito.