A Sublime Arte de Ser Quem Sou: Entre Silêncios, Liberdade e Propósito
Há momentos na vida em que somos convocadas — não por outros, mas por nós mesmas — a olhar com firmeza para dentro, sem filtros, sem máscaras, sem necessidade de aprovação. E quando esse chamamento interior se torna demasiado evidente para ser ignorado, algo em nós muda. Algo acorda. Algo decide, por fim, existir em plenitude. Foi nesse ponto que eu me encontrei. Num silêncio ensurdecedor, mas profundamente revelador, onde percebi que a minha maior liberdade reside na escolha consciente de não me justificar constantemente.
Durante muito tempo, vivi numa dança exaustiva entre o que eu sentia e o que os outros esperavam de mim. E confesso: tentei agradar, tentei explicar, tentei suavizar a minha essência para não desagradar. Justificava cada gesto, cada ausência, cada escolha. Como se a minha vida fosse um contrato social em que cada parágrafo exigisse validação alheia. Mas quanto mais me explicava, mais me afastava de mim. Tornava-me refém de um sistema invisível onde o valor era medido pela compreensão dos outros — e isso, percebo hoje, é uma prisão que tantas mulheres habitam sem sequer se darem conta.
Aprendi, com lágrimas que ninguém viu e decisões que poucos entenderam, que justificar-me constantemente era, no fundo, pedir desculpa por ser quem sou. Por ser sensível e racional ao mesmo tempo. Por querer o silêncio num mundo que grita. Por ser ambiciosa, mas também ter dias em que só quero parar. Por querer amar sem limites, mas impor fronteiras onde me senti desrespeitada. A dualidade humana é natural, mas quando és mulher, esperam que sejas linear, constante, compreensível — uma espécie de fonte inesgotável de equilíbrio e disponibilidade. E eu recuso esse papel moldado pela expectativa e não pela autenticidade.
Hoje, não carrego mais a culpa de não agradar a todos. Não sinto mais o peso de explicar porque mudei, porque afastei-me, porque escolhi outros caminhos. Porque simplesmente já não quero justificar-me por viver de acordo com a minha verdade. Aqueles que verdadeiramente me conhecem não precisam de explicações — eles sentem-me. E aqueles que me respeitam, confiam no meu processo, mesmo quando não o compreendem de imediato. O amor maduro não exige constante validação, ele floresce na confiança mútua.
Viver a explicar-me seria, na essência, anular a minha individualidade. Seria como viver a pedir autorização para cada passo que dou, como se a minha vida pertencesse ao domínio público. E não pertence. A minha vida é sagrada. É feita de camadas que nem eu, por vezes, entendo por completo. Como posso esperar que os outros o façam? Cada decisão minha carrega contextos que não se vêem, dores que não se narram, e sonhos que só eu sei como queimam dentro do peito. A minha liberdade é o reflexo da minha coragem de viver sem pedir desculpa por me escolher.
E nesse espaço de liberdade, encontro também a minha responsabilidade. Porque não se trata de viver com desdém pelos outros, mas sim com lealdade a mim. Ser livre é também saber que as minhas escolhas têm consequências, que nem todos me acompanharão, que algumas portas se fecharão. Mas é também saber que as que se abrirem serão verdadeiras, serão minhas, serão coerentes com quem me tornei.
A minha verdade já não é negociável. Já não me cabe em espaços apertados. Já não se dilui em justificações. E sabes? O silêncio tornou-se uma das minhas respostas favoritas. Não por desprezo, mas por maturidade. Porque percebi que quem precisa constantemente de justificações para aceitar quem eu sou, talvez ainda não esteja pronto para caminhar ao meu lado. E está tudo certo com isso. Cada um tem o seu tempo, o seu percurso, o seu nível de consciência. Eu escolho honrar o meu.
Não falo de uma liberdade egoísta, mas de uma liberdade consciente. Aquela que vem da lucidez de saber quem sou, o que quero e o que não aceito mais. E essa lucidez, esse alinhamento, traz uma serenidade que nenhuma aprovação externa consegue oferecer. A clareza de espírito é, talvez, uma das maiores conquistas da maturidade emocional.
Não estou acima de ninguém. Mas recuso estar abaixo de mim. A minha espiritualidade ensinou-me que viver com Deus no coração não é apenas rezar em voz alta ou seguir preceitos exteriores — é também cultivar a verdade interior, a integridade, o amor-próprio. É olhar-me ao espelho com paz e saber: estou a ser fiel à mulher que Deus sonhou quando me criou.
Assim, deixo aqui um apelo silencioso a todas as mulheres (e homens) que ainda vivem reféns da explicação constante: libertem-se. A vossa existência não precisa ser aprovada, nem justificada. Precisa ser vivida. Com intensidade, com amor, com responsabilidade, com propósito. Porque quem caminha com verdade não precisa convencer ninguém. A presença fala por si. E o silêncio… ah, o silêncio, esse sim, é um grito de autenticidade.
Hoje, escolho viver com leveza, mas com firmeza. Com amor, mas com limites. Com fé, mas também com acção. Porque o mundo pode não estar sempre pronto para a minha verdade, mas eu estou. E isso… é o que realmente importa.