O Peso Leve dos Ramos

 Domingo de Ramos: o início de um caminho sagrado

O Domingo de Ramos marca, liturgicamente, a entrada na Semana Maior do calendário cristão — a Semana Santa. É o dia em que se celebra a entrada de Jesus em Jerusalém, acolhido pelo povo com ramos de árvores, estendidos no chão como tapete de honra, e saudado com aclamações de júbilo: “Hosana ao Filho de David!”. Uma entrada triunfante e humilde, montado num jumento — sinal de paz, não de conquista —, anunciando já a inversão dos valores do mundo que o Evangelho nos propõe.

Este gesto, repetido simbolicamente todos os anos, não é uma mera encenação litúrgica, mas um apelo profundo à nossa consciência: estamos preparados para acolher o Cristo em nós? Reconhecemo-lo nas alegrias, mas também nas dores, nas promessas e nas renúncias? O mesmo povo que o aclama nesse dia, será aquele que, dias depois, o negará. Uma advertência silenciosa para a nossa própria inconstância espiritual.

Em Portugal, e particularmente na minha tradição familiar, levamos à missa um ramo feito com intenção, beleza e sentido. O nosso ramo é composto por palma — símbolo de vitória espiritual —, alecrim — que purifica e guarda —, rosmaninho — perfumado e discreto, memória viva da terra — e oliveira — sinal eterno de paz e aliança. Há, nos elementos naturais que compõem o ramo, uma liturgia silenciosa que fala ao coração.

Este ano, ao ir recolher os materiais, deparei-me com a escassez do rosmaninho. A terra não nos deu o suficiente para todos os ramos que pretendia fazer. Mas onde falta um elemento, a criatividade e a intenção suprem. Decidi, então, colher flores campestres, escolhidas criteriosamente com a flor da mesma cor que o rosmaninho — um gesto de continuidade estética, mas também de homenagem ao que a natureza pôde oferecer.

O gesto, inicialmente solitário, tornou-se comunhão. Pedi ajuda a uma irmã de fé, mulher sensível, cúmplice em espiritualidade, e juntas demos forma a cada ramo com cuidado e reverência. Não há nenhum ramo igual ao outro — como também não há duas almas iguais. Cada um leva consigo uma composição única, mas com o mesmo fio condutor: a fé, a beleza da simplicidade e a intenção de bem.

Estes ramos não são apenas para mim. São para oferecer a pessoas especiais — não necessariamente as mais presentes, mas as mais sentidas. Aquelas que tocam a vida de forma invisível mas duradoura. Oferecer um ramo neste dia é oferecer uma bênção, uma oração silenciosa, um pedaço de paz.

Neste Domingo de Ramos, levo não só os ramos que fiz com as minhas mãos, mas também a entrega do meu coração. Que cada ramo seja uma ponte entre o céu e a terra, entre quem dá e quem recebe, entre a natureza e o sagrado.

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