Não é o que tenho, é o que sou.

Sabes… há coisas que realmente nos definem. Mas não falo de títulos, de diplomas ou do que a sociedade valoriza. Falo de coisas simples, mas profundamente reveladoras. O teu sorriso quando não tens nada. A tua atitude quando tens tudo.

Sorrir na ausência — isso sim é grandeza. É fácil ser gentil, generoso e feliz quando tudo está no lugar, quando há estabilidade, quando se é reconhecido. Mas manter o brilho no olhar no meio da tempestade… isso é alma forte. Há quem só saiba ser feliz quando tudo corre bem, mas eu aprendi a sorrir mesmo quando me doía respirar. Porque a minha paz não depende do que possuo, mas daquilo que carrego cá dentro. E isso, ninguém me pode tirar.

Já quando a vida começa a dar-nos aquilo por que sempre lutámos — seja amor, estabilidade, sucesso — aí é que se revela a essência. O poder é um espelho perigoso: mostra-te a ti próprio como realmente és. Há quem se perca, se torne arrogante, se esqueça das raízes. E há quem se mantenha de pé, com humildade, com consciência, com gratidão. E é aqui que digo: o que te define não são as circunstâncias, mas a tua resposta a elas. O carácter prova-se tanto na escassez como na abundância.

Não sei por que motivo tanta gente se incomoda com quem sou. Eu escolhi ser assim. Trabalho para ser assim. Carrego os meus muros com intenção — não por fraqueza, mas por sobrevivência. E sim, às vezes é mais fácil que pensem que sou fria, má, distante. Isso afasta os curiosos, os passageiros. Fica quem realmente quer conhecer quem sou para lá da superfície. Quem Deus coloca no meu caminho. Quem vê para além da couraça.

Escrevo sobre as minhas virtudes, não por vaidade, mas porque sei o quanto me custaram. E sim, tenho defeitos. Muitos. Tenho pecados, tenho sombras, tenho falhas. Mas sou capaz de olhar para elas com honestidade. Aceito-as. Trabalho nelas. E acima de tudo, nunca deixo de ser inteira. Nunca fui de usar máscaras. Não preciso de vestir personagens para agradar. Gosto de ser quem sou, mesmo que isso signifique não agradar a todos. Respeito quem escolhe outro caminho — mas eu não quero isso para mim.

Finjo que acredito, às vezes, para manter a paz. Não porque me falte opinião, mas porque aprendi que nem tudo merece resposta. E se alguém se sente bem a representar, que o faça — eu não julgo. Mas não esperem que eu me molde ao mesmo teatro. Não vim para julgar. Não estou aqui para medir ninguém. Quem quiser caminhar comigo, vem. Quem não quiser, segue o seu rumo. E está tudo bem. Não guardo mágoa. Apenas sigo.

Já fui uma pessoa má. E não me envergonho de dizer. Era revolta, dor, frustração. Era fome — de amor, de cuidado, de um lar, de pão. Cresci na lama. Dormi na rua. Passei fome de tudo. Fui invisível. Mas não quis que isso definisse o meu futuro. Escolhi mudar. Escolhi amar. Desenvolvi empatia, generosidade, paciência. Olhei para mim e vi uma mulher que não gostava da imagem que o espelho devolvia. E disse: basta.

E foi nesse processo de renascimento que Deus colocou alguém no meu caminho. No início, apareceu como um amigo. Daqueles que ouvem sem julgar, que ficam quando todos vão, que nos enxergam quando nem nós conseguimos ver valor em nós próprios. Era presença firme e calma. Depois, sem pressa, sem forçar, tornou-se meu companheiro. Começámos a construir uma história a dois, lado a lado, passo a passo, com base na verdade e na partilha. E desse amor nasceu a nossa filha — e com ela, nasceu também uma nova versão minha. Ele, que começou por ser o amigo que me devolveu a fé no outro, tornou-se o pai da minha filha. Com ela, aprendi a ser mais leve e mais forte. Aprendi a ser pilar. Aprendi que o amor não é só o que se sente — é o que se constrói.

E hoje ele é mais do que companheiro. É a âncora e o espelho. É o homem que esteve quando eu não era fácil de amar. Que acreditou mesmo quando nem eu sabia o que merecia. E, se Deus quiser, em breve será meu esposo — não apenas num papel, mas diante de Deus, com testemunhas, com graças e com propósito. Porque o que temos não foi construído à pressa nem por carência — foi alicerçado no amor, na luta e na vontade de ser melhor um para o outro. E isso, para mim, é sagrado.

Depois veio o meu filho mais novo, e com ele, a maior provação. Quando o magoaram, quando o julgaram, quando tentaram arrastar-nos para a lama… eu senti a antiga raiva bater à porta. Mas resisti. Não revidei. Não humilhei. Não devolvi o mal. Escrevi. Chorei. Rezei. Curei-me nas palavras e ergui-me com dignidade. E por isso, sim, orgulho-me. Porque a vingança seria fácil, mas a elevação é que mostra quem eu sou hoje.

Escrevo sobre tudo isto para não me esquecer. Para lembrar-me de onde vim, de quem fui, de quem sou. Para que, se alguém me ler, saiba que as flores também nascem na lixeira. Que há diamantes na lama. Que o passado não é sentença. Que as pessoas mudam. Evoluem. Renasce quem escolhe renascer. E que os vilões, tantas vezes, são só corações que um dia foram esmagados.

A luz tem sombra. E nem tudo o que parece é. Por isso, antes de julgar, olha bem. Ou melhor, escuta. Porque a tua ideia pode estar errada.

Eu? Eu não quero ser perfeita. Só quero ser inteira. E ser inteira, hoje em dia, assusta muita gente.


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