Aos que lêem – e aos que se doem
Sei que não tenho enviado os textos. Sei, sim. Não é esquecimento. É escolha.
Por vezes o silêncio é mais eloquente que o verbo, e há fases em que a quietude da mente serve mais à lucidez do que a compulsão por partilhar. Mas agora, neste breve intervalo entre o caos e a contemplação, escrevo. Para os que sentem saudade daquelas palavras que, dizem, confortam. Para os que se nutrem da minha exposição como se fosse espelho.
É curioso: recebo mensagens comoventes, cheias de ternura e gratidão, de quem se vê nos meus textos como se fossem confissões suas. Como se eu desnudasse as suas dores com a precisão cirúrgica de quem conhece o fundo do abismo. E conheço. Agradeço de alma cheia a esses — os que se encontram nas entrelinhas, os que compreendem o sentido por trás do sarcasmo, os que sabem que cada frase tem mais de faca que de flor.
Mas hoje escrevo sobretudo para os outros.
Para os que se incomodam.
Para os que se irritam.
Para os que dizem que “não é bem assim”.
Para os que se sentem expostos.
Não me ofende. Ao contrário, fascina-me.
Adoro a forma como certos textos fazem escorrer veneno de almas apertadas por dentro. É o efeito colateral da verdade: ela não acaricia, ela arranca a máscara. E há quem viva tanto tempo com a máscara colada à pele que já não sabe onde termina o fingimento e começa o rosto.
E é aí que entro.
Como bisturi.
Como espelho.
Como sentença.
Os textos que escrevo não são para agradar. São para acordar. Para incomodar quem dorme tranquilo no sono da mediocridade, dos discursos prontos, dos valores de cartão. Há quem se ofenda? Ótimo. A ofensa é o primeiro sintoma da consciência a acordar.
É fascinante ver como alguns se encolhem diante da crueza. Veem-se nas palavras como réus e tentam defender-se como vítimas. Mas a escrita não é tribunal. É revelação. E não estou aqui para passar a mão na cabeça de ninguém — nem na minha.
Há quem ache arrogante? Talvez.
Mas não confunda convicção com soberba.
Não confunda lucidez com vaidade.
Agradeço a Deus, sim. Não por me achar especial, mas por saber que esse dom de dissecar sentimentos, de traduzir em palavras o que tantos reprimem, não é obra do acaso. É missão. E missão que se cumpre com sangue, não com filtros de Instagram.
Portanto, aos que se sentem tocados — bem-vindos.
Aos que se sentem cortados — ótimo.
Aos que esperam textos doces — escolham outro autor, ou leiam só os que preenchem os requisitos.
Eu continuo a escrever navalhas, contos , motivação, terror mas principalmente narro vivências e sentimentos que vivi e senti.
E há quem goste.
E há quem sangre.
E ambos me leem.
E isso basta.