Viver em Verdade: O Silêncio que Cura, a Presença que Transforma.
Introdução:
Nem sempre quem se afasta está a desistir. Às vezes, está apenas a reencontrar-se. Este texto nasce de um lugar profundo de transformação pessoal, onde o silêncio se tornou escudo, a introspecção virou bússola e o amor-próprio floresceu. Entre memórias que já não servem e vínculos que perdi por bem, reencontrei o valor da autenticidade. Escrevo isto por mim, mas talvez também por ti, que precisas lembrar que viver plenamente é possível — mesmo depois das quedas, mesmo longe dos olhos alheios.
Renascer em Mim: Uma Crónica de Transformação, Silêncio e Verdade
Ao contrário do que possam imaginar — ou do que as aparências outrora insinuaram — estou bem. E não apenas bem no sentido superficial da palavra, mas bem de verdade. Bem na alma, bem no coração, bem na pele. Tenho um lar que me abriga, não apenas das intempéries do mundo exterior, mas também das tempestades internas que, noutros tempos, me fustigavam silenciosamente. Tenho comida na mesa, sim, mas mais do que isso: tenho a mesa preenchida de afectos, partilhas e risos sinceros. As contas estão pagas, os dias organizados, e a minha consciência tranquila.
Mas o mais precioso de tudo é o que não se pode pesar nem medir: sou amada. Não mal amada, não ignorada, não tida por garantida. Sou verdadeiramente amada — com respeito, com presença, com intenção. Amada por amigos, marido e filhos . O meu marido é mais do que um companheiro: é um cúmplice, um amparo, um espelho onde vejo reflectida a minha melhor versão. Os meus filhos? Felizes. E isso, para uma mãe, é como respirar sem esforço — um sinal claro de que estou no caminho certo.
E, no entanto, para chegar até aqui, precisei afastar-me. Afastar-me não por egoísmo, mas por necessidade de preservação. Deixei para trás máscaras, teatros sociais e afectos interesseiros. Desviei-me, literalmente, trocando caminhos e horários, para não cruzar olhos que só sabiam julgar ou sugar. Percebi, com um misto de dor e alívio, que há pessoas que apenas sobrevivem na nossa vida à custa do nosso sacrifício. E eu deixei de ser mártir.
Já não sou a mulher de há um ano. A mulher de antes amava tanto os outros que se esquecia de si. Hoje, amo com medida, com critério, com maturidade. Evoluí. Não me tornei perfeita — e ainda bem. Tornei-me mais humana, mais lúcida, mais inteira. Aprendi a dizer não, a reconhecer o que mereço, a estabelecer fronteiras. Esse processo, por vezes, foi solitário. Desapegar-se dói. Crescer dói. Mas como tudo na vida que vale a pena, também este percurso foi fértil em recompensas. Sinto-me mais leve, mais conectada com o que é essencial, mais firme nas minhas escolhas. Não preciso de aprovação alheia, nem da ilusão de pertença. Encontrei em mim um espaço seguro — um lugar onde sou suficiente, onde sou plena.
E não, não corro atrás de ninguém. Muito menos daqueles que se julgam superiores, que alimentam o ego com conversas vazias, onde o prato principal é a minha vida, temperada por suposições e boatos. Gente que nada sabe, mas muito opina. Pessoas que se entretêm com o que julgam conhecer — e que, na verdade, não sabem absolutamente nada. Iludem-se com fragmentos de histórias que não viveram, com palavras soltas que não ouviram da minha boca. É uma dança ridícula à volta de um fogo que já se apagou há muito.
Hoje, não partilho nada em tempo real. O que se vê nas redes sociais é eco, é registo, é memória. Tudo o que lá está foi vivido, sentido, sim, mas não quando se publica. Preservo o agora. Protejo o presente. Não dou palco a quem só quer observar de longe, para depois construir narrativas que em nada me representam. O meu silêncio é escolha, não ausência. A minha distância é protecção, não desinteresse. E se por vezes pareço antipática, é porque assim afasto os curiosos — aqueles que não vêm por carinho, mas por puro voyeurismo emocional.
Escrevo aqui, sim. Mas não sem antes ter dito a mim mesma — e a outros — que deixaria de escrever. Disse que apagaria textos, e tenho cumprido. Texto a texto, tenho limpo este espaço de memórias que já não me servem, de ilusões que os meus próprios olhos quiseram acreditar. Apaguei palavras que pintavam passeios, risos e cumplicidades que, vistas hoje com clareza, existiram mais na minha alma do que na realidade. Amizades que foram unilaterais, afectos mal distribuídos. A verdade é que, em muitos momentos, eu quis ver o melhor onde não havia sequer metade.
Ainda restam alguns textos por eliminar. Falta tempo, é verdade. Mas também falta aquela força final que só chega quando se está mesmo pronta para fechar, de vez, certas portas. E tudo bem. Estou em processo. Estou em cura. E isso também é viver.
Porque ao contrário do que pensam — e do que talvez gostassem que fosse — eu vivo. Vivo plenamente. Não preciso exibir para provar. A minha plenitude não grita, sussurra. Está na fé que me guia, na família que me sustenta, nos amigos que ficaram, mesmo depois da triagem silenciosa. E são esses que valem a pena. São esses que contam. São com esses que quero continuar a construir. Não importa que digam que estou a ser repetitiva, importa que estou a ser honesta e autêntica.
Não sou perfeita. Mas sou inteira. E hoje, isso basta-me.