Domingo dá misericórdia.
Hoje celebrámos a Pascoela, o chamado Domingo da Misericórdia, e foi como se todo o peso do mundo se tivesse dissolvido na mais doce brisa da paz. Este dia, tecido de serenidade, superou qualquer descrição possível, como se as palavras, frágeis, se quebrassem perante a grandiosidade silenciosa do que vivi.
Recebi o convite para um piquenique com os jovens e um grupo da igreja — convite esse que, noutro tempo, teria acolhido com entusiasmo juvenil. Contudo, este ano, havia um compromisso já firmado: passar o dia com amigos muito queridos, num espaço que é quase uma extensão da minha própria casa. A decisão revelou-se não só acertada, mas necessária.
O meu filho, radiante, encontrou na piscina coberta um oceano de alegria. As crianças mergulharam no tempo, indiferentes à passagem das horas, emergindo apenas quando o aroma da comida as obrigava a reconhecer, ainda que relutantemente, o chamamento da mesa. O riso infantil, puro e vibrante, entrelaçava-se com as conversas dos adultos — diálogos que foram tudo menos banais. Falámos de fé, de dúvidas, de sonhos adormecidos e de futuros ainda por moldar. Rimo-nos, emocionámo-nos, tocámos as partes mais vulneráveis de nós, e saímos renovados, como peregrinos que, sem sair do lugar, caminharam mundos dentro de si.
Agora, já em casa, sinto a necessidade imperiosa de escrever, de fixar no papel — ou no seu simulacro digital — a beleza subtil deste dia. Sento-me, sabendo que a semana que se aproxima será exigente, densa de compromissos, uma prova de resistência tanto física quanto espiritual. Em breve, partirei em peregrinação até ao Cristo Rei, carregando comigo todas as preces silenciosas que guardo no peito, todas as esperanças ainda por dizer. Poucos dias depois, será Fátima a chamar-me, com a sua luz tão humana e, ao mesmo tempo, tão divina, onde tantas lágrimas, tantas promessas e tantos milagres se entrelaçam no vento.
No fundo, tudo isto é preparação. Não apenas para estas viagens sagradas, mas para a maior travessia que se avizinha: dentro de meses, deixarei esta terra. O pensamento é simultaneamente agridoce e electrizante. Trocar a segurança do conhecido pela incerteza do novo exige uma coragem que nem sempre sei se possuo. Mas cada fibra do meu ser, cada prece que se ergue do meu coração, aponta na mesma direcção: é tempo de partir. É tempo de recomeçar.
Não levo apenas malas e recordações: levo a memória dos dias como este, dias em que a paz parece ser um vislumbre do próprio Céu; levo os risos, as conversas, a amizade verdadeira; levo a certeza de que, onde quer que eu vá, não irei só. Levarei, acima de tudo, a fidelidade àquilo que sou, àquela que continuo a tornar-me — peregrina da vida, caminheira de sonhos antigos e de futuros ainda por nascer.
Hoje, nesta tarde doce e memorável, sussurrei em silêncio: "Estou pronta". E, por mais que tema o desconhecido, sei que em cada passo há uma promessa: a promessa de que quem ousa caminhar, mesmo sem ver o caminho todo, será sempre sustentada pela Graça.