Reflexão: abril
A Misericórdia: Essência Divina e Chamado Humano
A misericórdia é a mais sublime expressão do amor divino. Não é apenas um sentimento passageiro, mas a manifestação concreta da compaixão de Deus na história da humanidade. É o fio dourado que entrelaça justiça e amor, permitindo que a redenção triunfe sobre o peso do pecado. Ser misericordioso é tocar na própria essência de Deus, pois como diz o Salmo: "É eterna a sua misericórdia!"
Mas o que significa, verdadeiramente, para mim, a misericórdia? Para além da definição teológica, a misericórdia é um convite radical a amar o outro como Cristo nos amou. É perdoar não sete, mas setenta vezes sete. É enxergar no inimigo um irmão, no caído uma alma digna de reerguimento. A misericórdia desafia a lógica fria da retribuição e nos insere na dinâmica do dom: dar sem esperar, amar sem reservas, acolher sem julgar.
Já senti a misericórdia de Deus? Sim, e inúmeras vezes. A cada queda, Ele me ergueu. A cada noite escura da alma, Ele brilhou como estrela guia. A misericórdia de Deus não é apenas um conceito abstrato, mas uma realidade palpável, presente nos detalhes mais simples da vida: no perdão inesperado, no abraço que cura, na providência que chega quando tudo parece perdido. Se estou aqui hoje, é porque a misericórdia de Deus me sustentou.
E, afinal, sou misericordiosa ou vingativa? Esta é a pergunta que fere, que expõe as feridas do orgulho e do ressentimento. A verdade é que ser misericordioso exige um esvaziamento do ego, um abandono das armas da autodefesa, uma confiança plena no poder transformador do amor. Muitas vezes, fui tentada a retribuir o mal com o mal, a erguer muros em vez de pontes. E houve tempos em que retribuí o mal com o mal, em que me vinguei, em que fui cruel e paguei na mesma moeda. Mas com luta, mudei isso. Aprendi pela dor e pelo amadurecimento.
Partilhei misericórdia quando fui difamada injustamente, quando atacaram minha dignidade, quando feriram minha família e, mais ainda, meu filho mais novo. Não me vinguei, mas vingaram-se de mim. Tentei me defender, em vão. Fui desrespeitada. Tentei construir pontes, mas quanto mais buscava desatar nós, mais eles se enredavam.
Hoje, sou misericordiosa não apenas com amigos, mas também com inimigos ocultos. Embora construa muros para me proteger, escolho o perdão e o silêncio. Opto por não dizer o que sei ou o que penso quando percebo que a palavra pode ferir. Mas essa misericórdia não é passiva – ela se manifesta para aqueles que me respeitam, pois misericórdia sem respeito se torna submissão.
Que a misericórdia não seja apenas um conceito em minha mente, mas um estilo de vida. Que eu a viva, que eu a proclame, que eu a espalhe. Pois somente na misericórdia encontramos a verdadeira face de Deus – e a nossa própria redenção.