Reflexão -Quando se diz tudo, em silêncio também.
Há momentos em que o mais difícil não é falar — é manter o tom certo. Ficar no equilíbrio entre o que se sente e o que se escolhe não devolver.
Hoje posso dizer, com uma serenidade quase poética, que consegui. Escrevi o que precisava ser dito. Sem dramatismos, sem exageros, sem ataques. Fiz aquilo que, tantas vezes, parece pequeno, mas que exige força interior: fui sincera, fui clara, e fui gentil.
Não escrevi para causar impacto, nem para justificar-me. Escrevi como quem oferece uma prenda — simbólica, íntima, feita de palavras e intenções. Um gesto para lembrar, caso se queira lembrar, o que eu tenho de melhor.
Fui capaz de demonstrar compreensão, mesmo sem receber o mesmo. Perdoei, sem nunca ter ouvido um pedido. E desejei — genuinamente — o melhor. Porque é assim que quero viver: com leveza, com respeito por mim e pelos outros, mesmo os que não ficaram.
Desejei um caminho bonito na profissão. Que seja lembrada, como muitos desejam ser, pela presença e pelo afeto que deixa nas crianças. Que seja A Professora do Coração de alguém — como eu tive a minha. E desejei também que o seu filho tenha um percurso feliz, cheio de descobertas, aventuras e conquistas. Porque quando desejamos o bem para os outros, é a nossa própria alma que se organiza por dentro.
Sim, houve silêncio. Mas o meu não foi amargo — foi escolha. Escolhi não alimentar ressentimentos, nem ruídos. Preferi entender que, às vezes, as pessoas afastam-se não por maldade, mas por incapacidade de lidar com a verdade dita com calma.
E por fim, falei de mães. Porque esse é um tema sagrado para mim. Para mim, uma mãe é um tesouro com tempo limitado — e honramo-la com presença, com amor e com entrega. Caminhei com a minha até ao fim, com tudo o que tinha. E talvez por isso, tenha conseguido reconhecer a dor por detrás do gesto alheio. E compreender.
O mais bonito disto tudo? Foi ter conseguido fechar este capítulo com paz. Sem fingimentos. Sem arrogância. Com firmeza e com sentimento. O tipo de paz que chega quando se sabe que se fez tudo o que estava ao alcance — sem perder o tom, o amor-próprio, nem a lucidez.
Fiz para deixar como legado para meus filhos, o perdoar e ser gentil.
Agora sigo. Sem ruído. Mas com tudo dito.
E estou profundamente feliz por ter alcançado isto.
Porque não foi apenas um gesto. Foi uma afirmação de quem sou, de onde venho, e de onde me esforço por chegar. Foi um reflexo do caminho interior que venho fazendo — cheio de tropeços, de tentativas, de silêncios e também de fé.
Fundamenta-se aqui uma parte da minha vida. Este percurso não é só emocional — é espiritual. É o reflexo de uma mulher que vive a fé como caminho, não como rótulo. Uma mulher católica, peregrina, catequizanda. Porque sim, sou catequizanda toda a vida — alguém sempre a aprender, sempre a transformar-se, sempre a olhar para dentro à luz do Evangelho.
Ser cristã não é um estado acabado. É uma travessia. É, muitas vezes, perdoar sem ser compreendida, amar sem ser retribuída, caminhar sem aplausos. E mesmo assim continuar. Com firmeza, com ternura, com esperança.
Toda a minha vida vou ser peregrina, porque nunca estarei “pronta”. Há sempre mais a aprender sobre humildade, sobre misericórdia, sobre a coragem de calar quando nos querem ferir — e a sabedoria de falar quando é preciso dizer a verdade com doçura.
Toda a minha vida serei catequizanda, porque Cristo não se decora — vive-se. Aprende-se no outro, no que nos magoa e no que nos cura. Aprende-se na capacidade de agir com bondade mesmo quando não há reciprocidade. E é isso que me move: não fazer o bem porque o outro merece, mas porque eu acredito que é o certo.
Por isso, esta pequena grande conquista interior — de ter agido com lucidez, com respeito, com perdão — é para mim um fruto da fé. Não da fé cega, mas da fé vivida. A que me molda devagar, que me corrige com amor e que me lembra que ser cristã é, sobretudo, um verbo: é fazer, mesmo quando ninguém vê.
E é por isso que estou em paz. Porque cada gesto alinhado com este caminho dá sentido ao que sou, e ao que continuo a tentar ser — todos os dias, com os pés no chão e o coração no Alto. As minhas atitudes são coerentes com as palavras, consigo falar e reviver tudo sem dor, rancor ou raiva. Grata a Deus e á virgem Maria pela intercessão.