Domingo de pequenas revelações
Hoje é domingo. Levanto-me cedo, como de costume. Faço a minha higiene matinal, escolho com cuidado aquilo que me apetece vestir, e, num gesto que já é uma oração silenciosa, agradeço a Deus. A gratidão tornou-se a moldura dos meus dias, mesmo nos dias em que pesa mais do que flui.
Sigo até à cozinha e preparo o pequeno-almoço. Enquanto bebo o meu café, entrego-me aos meus rituais preferidos: ler ou escrever, deixar que a manhã, ainda tão pura, me envolva.
Hoje, porém, o silêncio foi interrompido. O telefone tocou cedo demais. Uma amiga ligava-me, o que me surpreendeu. Atendi, e ouvi um convite inesperado, daqueles que a vida envia como quem lança pedrinhas no lago da nossa rotina. Respondi-lhe que só mais tarde poderia dar resposta — depois da catequese e da missa, rituais que ao domingo guardo como sagrados: primeiro o alimento da alma, depois o da vida social.
Quando desliguei, reparei que tinha um e-mail por ler. Ontem, por honestidade e sentido de educação — princípios que carrego comigo como quem carrega um farol —, tinha enviado uma mensagem a esclarecer uma dúvida. Enviei sem esperar grande coisa, apenas porque sabia que, se não o fizesse, ficaria com a consciência inquieta.
Ao abrir o e-mail, percebi que a resposta era exatamente aquilo que tinha pensado. Uma confirmação silenciosa de algo que, no fundo, já intuía. Mesmo assim, decidi enviar uma resposta. Não me demorei em hesitações; fui fiel ao que senti.
Depois, pensei — como tantas vezes penso — em textos que escrevi e guardei sem nunca entregar. Textos nascidos de mim para essa pessoa, que nunca encontraram caminho até às suas mãos. Hoje, contudo, já não sinto vontade de os enviar. O que existia no impulso primeiro transformou-se noutra coisa: um respeito tranquilo pela distância, uma aceitação serena daquilo que é.
Ainda assim, ao escrever a resposta, senti o peito encher-se. Desejei, de coração, que aquela pessoa tenha tudo o que um dia lhe escrevi nos meus pensamentos. Curioso como, mesmo no desencanto, permanece dentro de nós a vontade de desejar o melhor aos outros.
Espero ter feito a escolha certa. Mas a dúvida, essa companheira silenciosa, ainda se aninha em mim: será que teria sido melhor não ter respondido? Talvez. Mas agora já está. E em cada palavra que ofereci havia verdade, havia carinho — e isso, no fim, basta-me.
E assim sigo o meu domingo: entre a fé, a dúvida e o carinho. Com a estranha e bela coragem de quem continua a acreditar que, mesmo quando não sabemos como será recebido, vale sempre a pena agir a partir do melhor de nós.