Francisco: O Papa que tocou o coração do mundo

Hoje, a Igreja não chora como quem perde, mas como quem sente a partida de um querido amigo, um filho amado. O Papa Francisco, Jorge Mario Bergoglio, descansou agora nos braços do Pai, a quem serviu com amor incondicional e verdadeira humildade. O homem partiu, mas o pastor permanece, e o amor que ele espalhou entre nós, esse amor que veio de Deus, não se apaga. Ele continua a nos tocar de formas que só o Espírito Santo pode traduzir.

Francisco foi, sem dúvida, o Papa de todos — dos mais próximos e dos mais distantes, dos que caminharam com ele e dos que se perderam no caminho. Ele foi o Papa de quem precisava de acolhimento, de quem buscava consolo, de quem estava no silêncio das periferias e no grito dos abandonados. O Papa dos pobres, dos migrantes, dos marginalizados. Ele olhava para o Cristo Crucificado nos olhos dos necessitados e neles via o próprio Deus.


O Papa do olhar acolhedor

Francisco não se limitou a ocupar um trono de pedra. Ele desceu, com os pés cansados e o coração cheio, até o chão sagrado do povo. Ele foi, em cada ato, um pastor de alma e corpo, que sentia as dores das ovelhas como se fossem suas. Ele caminhou com os pés de Jesus, sujou as mãos com a terra da humanidade, e acolheu todos com o olhar terno que entendia mais que palavras, que via a alma, que acolhia as feridas. Em cada gesto, em cada sorriso, ele mostrava o verdadeiro rosto de Cristo, aquele que não se cansa de amar. Ele fez da sua vida uma oração constante, que tocava o céu e descia à terra. Ele foi um homem de Deus porque sabia olhar com os olhos de Deus.

Escolheu viver em Santa Marta, não como uma questão de simples austeridade, mas porque desejava estar perto de cada um de nós. Ele sabia que um pastor não pode viver distante do seu rebanho, que a proximidade é o verdadeiro sinal de amor. Ali, ele não se isolava em torres de marfim, mas compartilhava alegrias e sofrimentos, rindo com os pobres e chorando com os aflitos. Sua casa era um reflexo da Casa de Deus: aberta, acolhedora, cheia de vida, de amor, de misericórdia.


O reformador com alma de servo

Francisco nunca teve medo de enfrentar os desafios dentro da Igreja. Ele sabia que a pureza do Evangelho não pode ser obscurecida por estruturas humanas ou pela hipocrisia. Sua missão não foi destruir, mas purificar. Ele foi o homem que, com a ternura de um pai e a coragem de um soldado, pediu por reformas. Mas sua verdadeira reforma estava em algo mais profundo — não era em papéis, não era em aparências. Era no coração da Igreja, no coração de cada um de nós. Ele nos chamou, com voz suave, para voltarmos a olhar para o Cristo vivo, próximo, misericordioso.

Em Laudato Si’, ele nos mostrou que o amor à criação não é apenas uma questão ambiental, mas uma questão de fraternidade universal. Em Fratelli Tutti, ele desenhou o mapa de uma humanidade reconciliada, onde não há mais muros, apenas pontes. Ele nos ensinou que o verdadeiro Evangelho é o Evangelho do encontro, do perdão, da compaixão. Sua teologia não estava nas palavras vazias, mas na vida que ele vivia, no pão que ele partilhava, nas mãos estendidas aos outros.


O Papa que foi nosso

Francisco foi, acima de tudo, um homem que se fez próximo de todos. Não fez distinção de classes, de cor, de idade, de cultura. Ele foi o Papa das crianças e dos idosos, dos pobres e dos ricos, dos crentes e dos que duvidavam, dos santos e dos pecadores. Ele falava ao coração do homem comum, mas também ao coração de quem estava perdido. Sua voz tocava as almas de todos, porque sua alma estava tocada pelo amor de Cristo. Ele nunca buscou reconhecimento, mas sim a verdadeira paz que só o amor pode trazer.

Amou com um amor tão puro, tão profundo, que se fez ouvir pelos que não podiam mais ouvir a voz de Deus. E, assim, foi seguido por todos aqueles que também queriam amar assim, sem medo, sem vergonha, sem reservas. Francisco foi amado porque amou primeiro. E amou com todo o seu ser, com cada gesto, com cada palavra, com cada oração. Ele não precisava de grandes gestos, porque o simples gesto de olhar e de se aproximar de alguém era, para ele, o mais grande sinal do Reino de Deus.


Adeus? Não. Amém.

Hoje, a Igreja não se despede de Francisco, mas o entrega ao Pai com os olhos cheios de lágrimas e o coração pleno de gratidão. Ele pediu para partir de forma simples, humilde, sem honras, sem pompa. Ele pediu para que sua vida não fosse celebrada, mas que Cristo fosse celebrado em tudo. E é exatamente isso que ele fez: não buscou glória, mas procurou ser fiel ao chamado que recebeu. Ele não foi grande, mas foi santo. Ele não procurou ser reconhecido, mas foi um exemplo de fidelidade, de generosidade, de amor

Agora, ele repousa nos braços do Pai, onde não há mais dor, nem cansaço, nem lamento. O Céu o abraça como abraça a todos os santos — com amor eterno. E nós, com um sorriso entre as lágrimas, confiamos que ele está em paz, junto dos anjos, dos santos e de todos aqueles que amou na terra. Que Pedro, sorrindo, o receba na barca eterna da Igreja, e que Maria, nossa Mãe, o acolha com ternura, como acolhe todos os filhos que nunca a abandonaram.


Francisco vive.

Vive no sorriso de cada criança que acredita em um mundo melhor. Vive no abraço dado aos que têm fome de justiça. Vive na oração silenciosa dos que buscam consolo. Vive em cada ato de misericórdia que ele nos inspirou. Vive no gesto simples de amor que ele fez de sua vida. Porque aqueles que amam com o coração de Cristo, aqueles que amam como Francisco amou, não morrem. Eles ressurgem. Ressurgem em cada ato de amor, em cada olhar acolhedor, em cada palavra de perdão, em cada esperança renovada.

Amém.


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