28/04/2025 -Quando Tudo Falha, a Escola Permanece
Era perto das 11h30 quando o quotidiano urbano sofreu um colapso súbito. A eletricidade desapareceu num estalar de dedos. Os telemóveis emudeceram, órfãos de sinal. Os semáforos extinguiram-se, devolvendo o trânsito a uma anarquia primitiva, de buzinas ansiosas e motores impacientes. A cidade mergulhou num transe estranho — uma distopia em miniatura.
E, no entanto, no meio deste cenário desordenado, onde a modernidade mostrava a sua fragilidade, algo extraordinário acontecia: a escola mantinha-se de pé. Serena. Funcional. Viva.
Ali, entre paredes desprovidas de luz e corredores sem rede, existia um verdadeiro oásis de organização. A ausência de tecnologia não desfez o tecido que unia aquela comunidade educativa. Pelo contrário, revelou a sua solidez. Sem internet, mas com ligação humana. Sem rede, mas com apoio mútuo. Sem eletricidade, mas com luz interior.
Era um ecossistema em harmonia.
Os docentes moviam-se com precisão silenciosa, articulando decisões sem necessidade de convocatórias digitais. Os auxiliares estavam presentes — atentos, discretos, eficazes. As crianças… tranquilas, confiantes, resguardadas por um sistema que as protegia mesmo no desconcerto.
Ali não havia correria, nem pânico. Havia uma coreografia espontânea de competência e presença.
A coordenadora, serena, caminhava sem pressa. Bastou-lhe confirmar o essencial: “Está tudo calmo.” E estava. Porque quando uma escola funciona como comunidade, a calma não é uma sorte — é uma consequência.
Lá fora, o mundo parecia em suspensão. O trânsito permanecia num estado de caos ressonante, os rumores multiplicavam-se ao ritmo da incerteza. Muitos pais, compreensivelmente, correram a buscar os filhos — inquietos, confusos, sem entender como a escola permanecia serena enquanto tudo o resto falhava. E, de facto, é difícil de entender: como é que, num apagão geral, as crianças continuavam a brincar, a aprender, sem saber que o mundo lá fora estava parado?
Mas dentro daqueles muros escolares, havia algo raro e precioso: ordem sem imposição, liderança sem gritos, confiança sem hesitação.
Hoje, aprendemos uma lição que não cabe nos manuais: A tecnologia pode falhar.
A energia pode faltar.
Os sistemas externos podem colapsar.
Mas uma escola com alma, com propósito, com compromisso coletivo… essa nunca se desliga.
Porque há instituições que não precisam de corrente elétrica para manter acesa a sua missão.
E por isso, a todos os que estiveram presentes nesse dia — professores, auxiliares, coordenadores e, sim, também os pais que, preocupados, vieram — o nosso mais profundo agradecimento.
Num mundo que oscila entre o imprevisível e o automatizado, vocês provaram que há algo mais forte do que qualquer infraestrutura: a humanidade bem organizada.
E isso, ninguém pode desligar.