Um Presente Indecente

 Ah, o Natal… essa época mágica onde o espírito de união convive lado a lado com as mensagens mais inesperadas e as encomendas mais... sugestivas. Cá estou eu, perdida entre rabanadas e o som incessante de "Jingle Bells", quando recebo a famosa mensagem: "Gostaste da encomenda?" Primeiro, pensei que fosse engano. Uma prenda trocada, talvez. Mas depois abri o pacote. E, querida, o espetáculo começou.

Imaginem só: uma vestimenta que devia chamar-se minimalismo erótico. Consegue a proeza de não tapar absolutamente nada, mas ainda assim pretende ser considerada roupa. Claro que o apogeu do génio criativo está no brinquedo estrategicamente pendurado. Assim, à vista de todos, como se dissesse: "Aqui tens a ferramenta, agora só falta a arte." E, surpresa das surpresas, tudo isto veio acompanhado por mensagens recheadas de impropérios, ameaças e raiva – um verdadeiro festival de sentimentos mal resolvidos, como só o Natal pode proporcionar.

Chamam-me profissional do sexo, o que, sejamos honestas, tem lá a sua graça. Afinal, é um título que confere uma certa dignidade às insinuações todas. Mas não posso deixar de pensar: será que há por aí algum desejo escondido, talvez um fetiche mal assumido, para com esta minha suposta profissão? Porque a maneira como te expressas – quem quer que sejas – só pode ter uma leitura: a curiosidade está a corroer-te. Bem, vamos lá acabar com os mistérios.

A ti, meu caro remetente das encomendas da discórdia, deixo um convite: aparece. Sim, sem medo. Prometo vestir a tal "farda profissional", trazendo o brinquedo pendurado e toda a criatividade de que te consideras tão merecedor. Estou disposta a ensinar-te umas coisinhas – por altruísmo, claro, porque o Natal é época de partilhar conhecimento. E, querido ou querida, asseguro-te: quando acabarmos, jamais esquecerás a experiência.

Comecemos pelo básico: onde gostas que te toquem levemente? Uma carícia suave, feita no sítio certo, pode transformar até a mais agressiva mensagem em um sussurro de prazer. E olha, terei todo o gosto em demonstrar – para que possas dizer com propriedade qual é, afinal, o teu ponto fraco.

Depois, traremos o brinquedo para a ação. Claro que uso ao ritmo que mais gostas, porque o cliente tem sempre razão, não é? Mas não te iludas. Ritmos alternados, movimentos circulares (atenção aos círculos!) e pequenos pormenores fazem milagres – garanto que até o teu discurso ofensivo fica mudo ao primeiro toque bem aplicado.

Ah, e antes que me esqueça: o segredo está na comunicação. Nada como sussurrares baixinho onde queres que eu te leve. Claro, isso implica que sejas específico, porque frases genéricas como "faz o que quiseres" não servem aqui. Quero o como, o quando e o quanto. Por isso, prepara-te. Vais aprender o que é suplicar educadamente.

Agora, o mais importante: sempre quiseste saber como é ser usado? Eu posso ensinar-te. Fazes de conta que és um daqueles presentes que ninguém pediu, mas todos acabam por usar porque dá jeito. Pois eu prometo cumprir rigorosamente aquilo que me mandaste nas tuas mensagens subliminares. Que queres que eu faça a ti? Bem, deixa que o improviso preencha os teus desejos nunca verbalizados. Não te esqueças, porém, que o Natal é para dar, e eu sou uma grande apreciadora do equilíbrio nas trocas.

Resta-me deixar-te uma última reflexão, como manda a quadra natalícia: o que enviamos aos outros diz muito mais sobre quem somos do que sobre quem pretendemos insultar. Se há raiva a mais nas tuas palavras, é porque tens falta de outra coisa. A minha tarefa, enquanto "profissional do sexo" na tua narrativa, será preencher esses vazios com... bem, com aquilo que só tu achas que mereces. Aposto que vais pedir mais.

Então, deixo-te com este conselho: se tudo isto for só uma forma de chamamento desesperado, manda uma mensagem direta na próxima vez. Porque encomendas tão sugestivas merecem, no mínimo, uma intenção clara. E para o próximo Natal? Tenta vinho. Vinho nunca falha.

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