Mensagem de Natal.
Hoje enquanto estava no voluntariado estas palavras estavam na minha mente e decidi escrever e partilhar. As palavras surgem por um motivo, tem um destinatário que se for a vontade de Deus as irá ler. Um dia talvez. Mas neste momento não é a altura ainda, a personagem que ela construiu de mim está presente na sua mente, a que eu construi está na minha, num futuro. Porque há momentos na vida em que as palavras falham, mas o coração, ainda assim, encontra formas de falar. E o Natal... o Natal é esse tempo em que os silêncios dizem mais do que qualquer voz, onde as ausências gritam mais do que presenças, e onde a luz suave que invade cada canto nos força a olhar para o que evitamos, a sentir o que guardamos e, talvez, a redescobrir o que esquecemos.
Existem laços que não seguem conosco, mas que jamais se desfazem. Ficam ali, numa dobra discreta da alma, resistindo ao tempo e às distâncias. Não é a presença que os define, mas o impacto que tiveram, as marcas que deixaram. E se há mágoas ou desencontros, é apenas porque houve algo precioso, algo que, de algum modo, importou. Pois ninguém guarda mágoa de quem é indiferente.
O Natal não é um lugar de julgamentos, mas de reflexões. Ele lembra-nos que os acasos da vida podem separar, confundir, afastar... mas que em algum canto silencioso da memória, todos nós somos visitados pelas escolhas que fizemos, pelo amor, carinho, amizade ou o simples gostar de alguém, que demos ou negamos. Ele convida cada um de nós a nos perguntar: deixei algo incompleto? Fui justo na maneira como tratei aqueles que cruzaram o meu caminho? Ofereci o que pude? E tive a coragem de ver no outro aquilo que, talvez, eu tenha me recusado a enxergar em mim?
Não publico este texto com expectativas, apenas com um desejo. Que esta época aqueça até mesmo os cantos mais fechados do seu coração. Que o amor, seja qual for sua forma, a alcance — mesmo que isso signifique abrir uma fresta em sentimentos que foram trancados. Que a luz do Natal traga a clareza para que consiga ver o bem nas situações mais confusas e, quem sabe, compreender que nem toda ausência é desinteresse, nem todo silêncio é esquecimento, e que a mágoa, muitas vezes, é apenas o reflexo de um carinho, uma quase amizade, que não soube como existir.
Desejo que neste Natal você seja visitada pela força que ilumina o que está na sombra. Que encontre no coração o espaço para reavaliar, perdoar e, talvez, amar de uma maneira mais verdadeira, mais livre. Afinal, o que é o Natal, senão a chance de renascer para si mesma? Que este pequeno texto, um dia, alcance não sua razão, mas sua alma — onde, em silêncio, todos os sentimentos se tornam impossível de ignorar.