Escrever por escrever.

Escrever por escrever é um castigo amargo,

um cárcere de palavras que não querem nascer.

Como fingir no papel o que não vive no peito,

como inventar rancor se só carrego mágoa mansa,

essa sombra fria que nem grita, nem exige?


Pedem-me que solte o ódio,

mas o ódio é fogo que não possuo.

Pedem-me que ataque com letras afiadas,

mas minha pena pesa quando não sabe a quem ferir.

Como posso escrever para quem não cabe

em minha vontade de escrever?


Ah, esse tormento de ser mal interpretada,

de ver minha alma vestida por mãos alheias,

cada verso arrancado do meu silêncio

transformado em arma contra quem nem pensei.

Que delírio é esse de roubar intenções

e plantar destinatários onde só há vazio?


Escrever é voo, não prisão.

E me cobram asas quando só tenho cansaço.

Querem que as palavras sejam veneno,

mas eu só sei entregá-las em suas formas cruas,

sem artifício, sem peso imposto,

tão livres quanto minha mágoa deseja ser.


Mas sabem o que me dói?

Não é escrever… é ser obrigada a explicar

o que é inexplicável,

justificar o que nunca foi culpa minha.

Cada palavra que dou, espremem até ela se perder,

até não ser mais minha.


Então, eu digo: não peçam de mim

o que não existe no meu ser.

Não usem minha voz para travar batalhas

que não quero lutar.

Minhas palavras são sagradas e não as entrego

ao ódio que não cultivo,

nem à dor que não me pertence.


Deixem-me escrever quando o coração pedir,

não quando exigirem sangue onde só há silêncio.

E, se não me entendem,

calo.

Pois o silêncio, ao menos,

é impossível de interpretar errado.


Por que escrever contra quem não entende,

contra quem lê o mundo pelas lentes turvas

da própria confusão?

Escrever contra seria uma tentativa em vão,

uma mão lançada ao vazio

onde não há reciprocidade nem verdade.

Escrever para ferir quem já me ouviu

e a quem devo favores

seria esquecer a minha própria essência,

trair a voz que em mim preza pela paz.


Atacar quem ataca é uma queda lenta,

uma descida ao patamar da amargura,

onde o grito do orgulho ecoa mais alto

que a calma de quem sabe esperar.

Descer ao nível de quem desrespeita

é dar a essa pessoa a ilusão do controle,

é permitir que ela dite meus movimentos,

e isso eu não farei.


Por que revirar o passado,

que já não me cabe mais?

Passado é solo árido, um lugar onde caminhei,

mas não quero mais morar.

Dar relevância a quem já teve importância

é alimentar uma chama apagada,

é oferecer luz a quem insiste

em viver nas sombras das mentiras que cria.


Não me ameacem a escrever com ódio,

porque isso, eu jamais serei capaz de fazer.

As palavras que nascem de mim não têm donos,

não pertencem a caprichos ou desejos alheios.

E se esperam que eu seja espada em papel,

deixo claro: não sou arma.

Eu escrevo com propósito,

não para agradar, não para ferir.


Não explicarei o inexplicável.

Não darei mais justificativas

onde a minha consciência já me absolveu.

O tempo é justo, e ele se encarregará

de desvelar o que precisa ser visto,

de colocar cada peça no lugar que lhe pertence.


Escrevo não para ferir, mas para arrumar.

Arrumar a bagunça no peito,

desatar nós que a mente não alcança.

Escrevo para organizar mágoas sem espalhá-las,

para entender aquilo que ainda não consigo nomear.


Escrevo porque sou vulnerável.

Escrevo porque sou imperfeita.

E nessas palavras, busco um espelho mais nítido,

um reflexo do que sou e do que quero ser.


Mas, acima de tudo, escrevo para elevar.

Escrevo para transformar o que é escuro

em aprendizado, em força, em luz.

Escrevo porque há fé no que sinto,

porque ainda acredito no carinho,

e, mais que tudo, escrevo por amor.

Não amor apenas ao outro,

mas amor a mim mesma e àquilo

que carrego de mais verdadeiro.


Por isso, se um dia o silêncio for minha escolha,

entendam: é porque a palavra que não eleva

não me serve,

e o rancor nunca será meu caminho.


Escrever por amor é o que me move,

é o que me liberta das correntes invisíveis

que tantas vezes tentam me prender.

Escrever por amor é enxergar beleza

no caos dos sentimentos humanos,

é buscar sentido na dor,

e paz na confusão que insiste em me cercar.


Eu não cederei ao rancor,

não me tornarei sombra por causa de quem me fere.

Escrever para atacar alguém seria um desperdício,

um insulto à força criadora

que encontro cada vez que me sento para sentir,

para pensar, para transformar o que há dentro de mim.


A quem espera que minhas palavras sejam armas,

digo: não contem comigo para o conflito.

Minha guerra não é contra ninguém,

e se escrevo, é para a construção, nunca para a destruição.

Escrevo para desatar nós,

não para criá-los.


Por que me pedem ódio

quando só quero plantar amor?

Por que insistem que me reduza

a um papel que não me pertence?

Eu não sou vingança,

não sou amargura,

não sou a projeção do que esperam em mim.


Sim, carrego mágoas,

porque sou humana e sinto profundamente.

Mas até a mágoa, quando escrevo,

se dissolve, se ressignifica.

Não escrevo para ficar presa ao passado,

mas para que ele seja parte do aprendizado

e não um peso que carregarei para sempre.


Se escrevo, é por uma força maior,

um desejo de tocar a vida com delicadeza,

de expor as rachaduras e transformá-las

em arte, em esperança.

Eu escrevo não porque alguém me ordena,

mas porque dentro de mim,

existe uma voz que precisa ser ouvida,

não para machucar,

mas para abraçar as imperfeições

que fazem de nós o que somos.


Por isso, que não me peçam explicações.

Explicar-se a quem não quer entender

é gritar contra o vento,

é perder o pouco de serenidade que resta.

O tempo será a testemunha

daquilo que carrego em meu coração.


E se minha escrita é escudo,

ela não protege contra ataques,

mas contra a falta de amor próprio,

contra a perda de sentido.


Eu escrevo porque sou livre

e porque a palavra tem o poder

de elevar aquilo que parecia perdido.

Se o outro não compreende,

se molda meus textos a narrativas próprias,

isso não é responsabilidade minha.

Minhas palavras são reflexo da minha verdade,

e essa ninguém pode distorcer.


Escrevo para criar mundos melhores,

para encontrar paz onde antes havia ruína.

E a única arma que empunho

é a coragem de não ceder

ao que não me pertence:

ódio, vingança, ou a necessidade de agradar.


Assim sigo,

palavra a palavra,

criando, amando, vivendo.

E enquanto minhas letras falarem do que é puro,

não importa quem me leia ou interprete mal,

minha alma estará salva.












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