Dezembro.
Quando chega dezembro, há quem espere que fale-se de amor, esperança, solidariedade e compaixão. É o espírito da época, dizem. Mas hoje, não vou escrever sobre isso. Hoje vou falar sobre café. Sim, o café. Esse companheiro fiel que acolhe-me todos os dias, sem julgamentos, sem pressa, e sempre com a intensidade que eu procuro.
Não gosto de leite, nunca gostei. E mesmo que quisesse disfarçar o sabor do café com ele – o que seria um crime, diga-se – o resultado seria desastroso. Não há chávena no mundo que justifique a minha manhã estragada com visitas inadiáveis ao quarto de banho. Assim, mantenho-me fiel ao puro, ao genuíno, ao café como ele é: negro, forte e direto, sem rodeios.
O cheiro do café pela manhã é, para mim, o verdadeiro despertar. Não há despertador que tire-me do torpor como aquele aroma quente e penetrante, que enche a casa e chama-me para começar o dia. É como um convite irresistível. O primeiro gole, então, é quase cerimonial. Fecho os olhos e deixo que a intensidade do sabor percorra-me, como se cada nota amarga fosse uma promessa de força e cada toque quente fosse um abraço de encorajamento.
Adoro sentir o calor da chávena nas mãos e ouvir o som leve da colher – que só mexe açúcar, nunca leite – enquanto o líquido dança ali dentro, pronto para acompanhar-me. Não há nada mais simples e perfeito. É engraçado como uma coisa tão pequena pode ser tão grande. O café não é apenas uma bebida, é um momento só meu, um intervalo no dia que ainda nem começou, mas já adivinha-se cheio de correrias.
Mesmo quando o ritmo é caótico, o café impõe um instante de pausa. É como se dissesse-me: "Respira. Está tudo bem." E, às vezes, é disso que preciso – de um lembrete de que até as coisas mais intensas podem ser saboreadas devagar.
Escrevo sobre café porque ele faz parte de quem sou. Porque, para mim, não é um mero hábito, mas uma conexão. Uma chávena de café não precisa de aditivos ou disfarces, muito menos leite. É perfeito como é, com a sua simplicidade robusta e aquele amargo que, curiosamente, torna tudo um pouco mais doce.