O Vazio da Inocência Perdida
Nasci com o céu apagado, sem estrelas a brilhar,
Onde os dias se arrastavam, sem nunca alcançar,
O abraço acolhedor que me devia ser dado,
No meu peito, só um vazio, um coração desolado.
O corpo pequeno carregava segredos imensos,
Sofrimentos disfarçados, suspiros intensos.
O toque que chegava, não vinha em carinho,
Mas em pressa, em ferida, em dor de caminho.
O sorriso nunca surgia, como se um fardo pesado
Me impedisse de viver, de sonhar a um lado.
Quando me olhavam, via-se o medo a crescer,
Os olhos calados, mas a alma a não compreender.
O vento que trazia a noite, denso e sombrio,
Trazia mais que escuridão, trazia o vazio.
A porta que rangia, deixava o tremor a chegar,
E o cheiro da dor fazia o corpo se calar.
Havia mais que falta de comida, luz, ou gás,
O que eu sentia era o eco do jamais.
Os braços que devia sentir como aconchego,
Levavam-me ao abismo, tirando-me o sossego.
O que deveria ser terno, transformava-se em medo,
Como se o corpo fosse um espelho quebrado, sem segredo.
Não falava, não tocava, mas via…
Tudo, através de um véu de dor que me envolvia.
A cada noite, o peso crescia sobre mim,
E a alma se distanciava, distante do fim.
O corpo continuava lá, mas eu já não o sentia,
Era como se uma parte de mim se apagava em agonia.
E os gritos que guardava, nunca foram ouvidos,
Apenas se abafavam, deixando o peso sofrido.
Olhava para o teto, sem forças para levantar,
A inocência se perdia, sem saber onde procurar.
Cresci à pressa, como quem é arrancada do jardim,
Um ramo que se quebra, sem ter tempo para um sim.
Fui aprendendo a fechar os olhos, a não respirar,
A cada pedaço de dor que insistia em se alojar.
E o coração, aquele que batia em mim,
Já não sabia a diferença entre o amor e o fim.
Cada olhar que se aproximava era só mais um medo,
Cada mão que tocava, apagava o que era cedo.
Eu não sabia, não entendia, não tinha como saber,
Como o corpo, com seus segredos, se mantém a sofrer.
Quando o sono me chegava, o pior ainda vinha,
Era quando me sentia mais sozinha.
Lágrimas que nunca saíam, dor que não parava,
Me apagava aos poucos, mas ninguém notava.
A alma que antes era luz, agora era escuridão,
Como um farol partido no meio do chão.
E mesmo quando o silêncio trazia alívio ao ouvido,
Dentro de mim, tudo ainda estava comprimido.
Fui crescendo em pedaços, em partes partidas,
Onde cada fragmento trazia vidas já esquecidas.
O mundo lá fora continuava, a vida corria,
Mas eu era um eco, a essência desaparecia.
Não sabia mais amar sem o medo amarrado,
Era tudo tão distante, tudo tão maculado.
Tentei me encontrar na sombra da dor que me envolve,
Mas o corpo que habito não era mais meu, não resolve.
Onde estava a criança que eu poderia ter sido?
Era agora apenas uma alma que andava perdida.
Hoje, na calma que não chega, na chuva que não molha,
Eu ainda me encontro entre o passado e a minha própria escolha.
O que sou, o que fui, o que me tornei…
Vivo com o eco, mas a alma ainda deseja viver, sei.
E ainda há um pedaço de mim, lá atrás,
Lá onde o sorriso se perdeu em rasgos fugaz.
Hoje, sou o que sobrevive ao peso do ser,
Mas a dor da perda me acompanha, a insistir em crescer.