Amar Não Basta
Desde cedo, aprendi que o amor é uma estrada longa, mas cheia de bifurcações, atalhos, obstáculos e paisagens que nem sempre conseguimos prever. Não acredito em contos de fadas, mas tampouco nego a magia que o amor traz às nossas vidas. A magia, porém, não é suficiente. Amar é um ato de construção. É erguer, diariamente, um castelo onde o respeito, a paciência e a cumplicidade são as pedras mais resistentes. E digo isto porque vivi, vivo e vi.
Passei anos a observar casais que desfazem-se e outros que resistem, e cheguei a uma conclusão: o amor não se basta, por mais belo que seja. Ele precisa de uma série de aliados para sobreviver. Precisa de respeito, aquele que nunca grita mais alto do que o outro, que não invade fronteiras pessoais e que reconhece a individualidade de quem escolhemos amar. Sem respeito, o amor murcha, perde-se, resseca.
Há quem pense que o amor verdadeiro é uma linha reta. Uma vez encontrado, mantém-se constante, fluido, sem interrupções. Mas a realidade é outra. O amor verdadeiro é cheio de curvas e desacertos. Às vezes, exige silêncio quando queremos falar; outras, exige paciência quando queremos gritar. E há ainda os momentos em que precisamos engolir o orgulho e admitir: “eu estava errada.” Porque, entre duas pessoas que compartilham a vida, não existe espaço para competição ou egoísmo.
Também aprendi que a sedução não pode morrer. Não falo apenas daquela que envolve beleza ou desejo físico, mas a sedução da alma, do humor, da leveza. Seduzir é fazer o outro sentir-se especial, mesmo nos dias cinzentos. Porque o amor sem sedução torna-se rotina, e a rotina, quando desprovida de charme, pode ser fatal. É preciso rir, e rir muito. É preciso transformar as pequenas tragédias do dia a dia em histórias que possam ser contadas com um sorriso.
E como é difícil conciliar tudo isso quando a vida real se impõe! A conta do supermercado, a exaustão do trabalho, as inseguranças pessoais. Não há amor que sobreviva sem flexibilidade, sem aquele “jogo de cintura” que faz-nos suportar até as tempestades mais severas. Amar é ajustar-se, não ceder tudo, mas saber quando é hora de recuar, de aceitar, de apoiar.
Talvez a lição mais dura que aprendi seja esta: o amor não é fusão. Ele não exige que sejamos metades que só fazem sentido juntas. Amar é permanecer inteiro ao lado de quem escolhemos. É dar espaço ao outro para que ele seja quem é, sem impor mudanças, sem tentar moldá-lo às nossas expectativas. União não significa simbiose, mas duas existências que tocam-se, influenciam-se, mas nunca perdem a sua essência.
Amar, para mim, é um ato de coragem e disciplina. É olhar para o outro nos dias mais difíceis e ainda assim pensar: “escolho-te, novamente.” E se permitem-me um conselho, que sirva tanto para quem está à procura como para quem já encontrou: não iludam-se a pensar que o amor basta. Ele é o coração, sim, mas o corpo inteiro depende de muitos outros órgãos – respeito, humor, amizade, confiança, resiliência.
Amem, mas amem com os pés no chão e o coração aberto. E, sobretudo, saibam que amar é uma escolha diária, não um acontecimento pontual. É uma obra em constante revisão, onde cada página nova nos desafia a sermos melhores. Que o amor seja grande, mas que a nossa capacidade de cultivá-lo seja ainda maior.