Integridade e Libertação
Se estou à procura da aprovação dos outros, já abdiquei, ainda que inconscientemente, de uma parte essencial da minha própria essência: a minha integridade. Este pensamento, por mais incómodo que seja, revela uma verdade brutal e inescapável sobre a condição humana. Desde cedo, somos condicionadas a procurar validação alheia, a ajustar os contornos da nossa alma às expectativas, às normas e aos caprichos de quem nos rodeia. É como se, ao buscar esse reflexo favorável nos olhos dos outros, perdêssemos de vista o espelho interno que nos devolve quem realmente somos.
Na busca pela aprovação, a autenticidade é a primeira vítima. Afinal, como posso ser fiel aos meus valores mais íntimos se moldo cada palavra, cada gesto e cada decisão para agradar a terceiros? Cada concessão, por mais insignificante que pareça, é um pequeno desvio daquilo que eu realmente sou; é como riscar delicadamente a superfície de uma pintura que, embora não perfeita, é unicamente minha. E ao longo do tempo, esses pequenos riscos acumulam-se até que o quadro original já não se reconheça.
Porém, por que buscamos tanto essa aprovação? Há quem diga que é uma necessidade intrínseca à natureza humana, uma reminiscência evolutiva de tempos antigos, quando a sobrevivência dependia da aceitação do grupo. Talvez haja verdade nisso. Mas, no mundo moderno, onde a individualidade é celebrada como um valor e a autonomia se ergue como uma meta desejável, o apego à validação externa torna-se quase paradoxal. Quando vivo em função do olhar do outro, sou prisioneira de julgamentos voláteis e expectativas que, frequentemente, nem sequer são justas ou coerentes.
Mais do que isso, a aprovação dos outros é, por definição, uma moeda instável. O que agrada a um pode desagradar a outro; o que é exaltado hoje pode ser ridicularizado amanhã. Será então que desejo subordinar a minha identidade a algo tão efémero? E, mais importante ainda, de que serve conquistar a aceitação externa se, no processo, me alieno de mim mesma? Se, ao ajustar a minha conduta para caber nos moldes impostos pelos outros, acabo por me despir do que me torna única?
Talvez esta constatação seja dolorosa: perceber que o preço da aceitação alheia é, frequentemente, demasiado alto. Contudo, ela traz consigo uma clarividência libertadora. Reconheço que a verdadeira integridade – essa palavra tão rica e ao mesmo tempo tão negligenciada – reside na capacidade de viver segundo os meus próprios princípios, mesmo que isso signifique desapontar quem espera que eu seja algo diferente. Integridade, para mim, significa a recusa em me fragmentar para agradar, a insistência em ser inteira mesmo quando isso desafia convenções, confronta expectativas ou atrai críticas.
É claro que não sugiro, com isto, um desprezo absoluto pela opinião dos outros. Não somos ilhas e, como seres sociais, as relações que nutrimos são parte intrínseca da nossa experiência. Mas existe uma diferença entre valorizar a perspetiva de alguém e depender dela para validar a nossa existência. A primeira aproxima-nos; a segunda diminui-nos.
Com o passar do tempo, aprendi que o caminho para a autenticidade é solitário, mas não necessariamente desolador. Ao contrário, é pleno de significado, porque nele encontro a liberdade de ser quem sou, com todos os meus defeitos, peculiaridades e contradições. Não sou perfeita, e é precisamente na aceitação dessa imperfeição que reside a minha força. A integridade não se define pela ausência de falhas, mas pela capacidade de enfrentar os dilemas da vida sem trair aquilo que considero fundamental em mim mesma.
Hoje, escolho libertar-me dessa necessidade paralisante de aprovação. Escolho construir a minha autoestima a partir de dentro, reconhecendo que o meu valor não deve ser condicionado por opiniões externas. Escolho honrar a minha verdade, mesmo quando esta não é compreendida ou aplaudida pelos outros. E, ao fazê-lo, percebo que o peso da aprovação que antes carregava transforma-se numa leveza quase impossível de descrever. Porque, no final, a única pessoa cuja aprovação realmente importa sou eu.