Luz de Belém.
A luz de Belém chega até mim como uma chama viva, ténue mas imensamente poderosa, portadora de um simbolismo que transcende o espaço e o tempo. Para mim, esta luz é mais do que um simples clarão ou um ritual. É um pedaço da eternidade, o reflexo do mistério de um Deus que escolheu iluminar o mundo através do nascimento humilde de Jesus em Belém.
Imagino os pastores na noite do grande anúncio, as estrelas tão vívidas como promessas num céu profundo, a luz celestial a descer sobre eles enquanto uma voz lhes sussurra: "Não temais." Esta mesma mensagem ressoa em mim quando seguro a pequena chama que percorreu mares, terras e fronteiras para chegar às nossas mãos. É, para mim, como segurar um eco da própria história divina.
A partilha desta luz não é um mero ato simbólico, mas uma proclamação da nossa fé comum, uma declaração de esperança e fraternidade. Sempre que estendo a chama a outro, sinto que estou a entregar mais do que fogo; estou a oferecer um gesto tangível de paz, solidariedade, e o renovado compromisso de ser um reflexo daquela luz maior que é Cristo. Naquele momento, todos os que partilham a luz tornam-se peregrinos do mesmo caminho, irmãos na fé e guardiões desta mensagem sagrada.
Para os católicos, a luz de Belém é profundamente significativa. Ela transporta a memória viva da candeia que brilha continuamente no local onde Jesus nasceu. Mas mais do que isso, é um convite para nos tornarmos portadores da verdadeira luz de Cristo no mundo, aquela que ilumina sem ofuscar, que guia sem impor, que aquece sem consumir.
Recordo-me sempre que, na vastidão de um mundo marcado por sombras, a luz de Belém é um apelo à simplicidade, à generosidade, à pureza de coração. Quando a distribuo, sinto em mim a humildade de Maria, que não guardou para si o grande dom de Deus, e a coragem de José, que acolheu a responsabilidade de proteger a Luz encarnada. É uma entrega que ultrapassa palavras, envolvendo a alma numa dança sagrada de amor e serviço.
Talvez seja esse o maior segredo desta luz: na sua fragilidade aparente, esconde-se a força imensurável da fé que move montanhas. E, ao partilhá-la, ela cresce. Não se divide, mas multiplica-se, como o milagre dos pães e dos peixes. Em cada rosto iluminado, encontro a chama do Evangelho vivo, uma fé que não se apaga, uma esperança que renasce.
Assim, a luz de Belém é para mim uma lembrança de que, em cada pequeno gesto de amor, habita algo eterno. E, ao passá-la de mão em mão, transportamos o próprio reflexo de Deus ao mundo. Que esta luz nunca se apague dentro de nós.