Eu sei

 Eu sei que ele é. Sempre soube. Mas ouvir aquelas palavras ditas por ele, naquela simplicidade tão profunda, fez com que tudo dentro de mim se iluminasse. A frase dele — “Eu sou uma criança igual às outras” — ainda ecoa em mim, como um lembrete de algo que já era óbvio, mas que a vida cotidiana às vezes ofusca: o valor de ser apenas quem se é.

Ele sentia-se assim porque, na outra escola, o peso das comparações era quase insuportável. Lá, parecia que ele era constantemente medido e classificado, como se precisasse caber num molde rígido e estreito que nunca foi feito para ele. A pressão para ser o “melhor”, para se destacar, para ter um comportamento dentro de um padrão ou corresponder a expectativas que nem eram suas, transformava a leveza natural da infância em um fardo pesado.

Eu o via mudar, aos poucos, naquela época. Ele, que sempre foi curioso, brincalhão e cheio de vida, começou a se calar mais, a hesitar antes de expressar-se, como se duvidasse de si mesmo. Eu sentia isso e tentava, com todas as forças, trazê-lo de volta ao espaço seguro do lar, onde ele pudesse ser apenas ele, sem máscaras ou defesas. Mas a escola era um lugar onde eu não podia estar, e era lá que ele parecia perder partes de si.

Foi devido ao isolamento e tudo isso que tomamos a difícil decisão de mudar. Não foi apenas mudar de escola; foi mudar de ambiente, de narrativa, de futuro. Sabíamos que ele precisava estar num lugar onde fosse aceito, não por aquilo que faz ou conquista, mas simplesmente por quem é. E hoje, ao vê-lo florescer de novo, tenho a certeza de que fizemos o certo.

Agora, na nova escola, ele é outra vez aquele menino radiante. Ele sente-se incluído, respeitado, parte de algo maior. E, nesse ambiente mais acolhedor, reencontrou aquela confiança genuína, o brilho no olhar e a alegria espontânea de ser criança.

Mas o mais importante não foi a mudança de escola em si. Foi ele perceber, mesmo que ainda tão jovem, que não precisa moldar-se às expectativas externas. Ele pode falhar, brincar, rir, aprender, tropeçar — e continuar a ser ele mesmo, sempre. O mundo ao redor pode ser gentil ou cruel, mas o que realmente importa é essa certeza interior que ele carrega.

E, enquanto o observo agora, sei que ele já não sente o peso de antes. Ele sabe que é suficiente. Ele sabe que é amado, não por ser “melhor” ou “diferente”, mas simplesmente por ser ele. E eu, enquanto mãe, aprendi algo fundamental nesse processo: criar um espaço onde a autenticidade dele possa florescer é o maior presente que posso lhe dar.

Ele sempre foi uma criança igual às outras, mas agora, finalmente, ele sente isso também. E esse sentimento de liberdade e aceitação, eu espero, o acompanhará para sempre.







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