Do Medo ao Amor
Eu aprendi, ao longo da vida, que o medo é o maior inimigo que habita no coração humano. Ele é sorrateiro, insidioso, esconde-se nas sombras da nossa mente, alimenta-se das nossas incertezas. É o medo que dá origem à raiva, à inveja, à tristeza e até à culpa que consome-nos como um fogo lento. Muitas vezes, ele mascara-se, disfarça-se de prudência ou de autoproteção, mas é sempre medo.
Vivi anos a tentar entender as minhas angústias. Por que razão sentia-me incapaz de seguir em frente em momentos cruciais? Por que permitia que palavras amargas de outros afetassem-me tanto? A resposta estava sempre ali, evidente, mas eu não queria encará-la: o medo. O medo de falhar. O medo de ser rejeitada. O medo de não ser suficiente. Era um veneno subtil, que espalhava-se sem que eu notasse, tornava-me prisioneira de mim mesma.
Mas descobri, com tempo e lágrimas, que há um remédio para este mal que corroía-me: o Amor. Não um amor superficial ou meramente romântico, mas o Amor profundo, essencial, que é a força vital do universo. E, ao compreender isso, vi que esse Amor não nasce apenas de mim, mas é um dom que vem de Deus. Um amor que manifestasse na fé, na família, na comunhão com o Pai, o Filho e o Espírito Santo.
Foi quando voltei o meu coração para Deus que o medo começou a perder o seu poder sobre mim. Na oração, descobri a paz que excede todo o entendimento. Compreendi que não estou sozinha, que existe uma força maior que sustenta todas as coisas, que é Amor puro, absoluto, eterno. E, nesse Amor divino, aprendi a confiar, mesmo quando o caminho parece incerto.
A minha família foi o espelho onde vi refletido esse Amor de Deus. Nos gestos simples, no carinho silencioso, nos sacrifícios diários que só o amor genuíno é capaz de realizar, encontrei uma fonte de força que o medo não consegue apagar. A fé em Deus une-nos, fortalece-nos, e faz-me ver que, em cada olhar e em cada sorriso, está a presença do Pai. É o Amor a guiar-nos, mesmo nas tempestades.
Mas houve uma tempestade em particular que abalou as fundações do meu coração. Sofria já por uma perda que consumia-me, mas nada me preparou para o momento em que vi o meu filho, ainda criança, ser rejeitado e sofrer negligência sentimental. Foi uma dor avassaladora vê-lo ser privado do carinho que merecia, do apoio que precisava. E, como se isso não bastasse, eu fui acusada, injustiçada, traída e julgada, por algo que não fiz, disse ou pensei.
Fui difamada por quem deveria compreender, esclarecer, dialogar e proteger a minha privacidade. A dor de ser apontada por algo que não fiz foi imensa, mas, mesmo no meio dessa injustiça, olhei para dentro e reconheci a minha parte da culpa. Sim, tinha cometido erros. Talvez não tivesse sido suficientemente atenta em alguns momentos, talvez tivesse permitido que certas situações se prolongassem por demasiado tempo. Assumo a responsabilidade que é minha, porque amar também é saber admitir as falhas e trabalhar para corrigir o que está ao nosso alcance.
Foi nesse abismo de sofrimento que, mais uma vez, clamei a Deus. Não o fiz com palavras bonitas ou elaboradas; fiz com o coração despido, em pranto. Pedi que Ele me guiasse, que me ajudasse a proteger o meu filho, que me mostrasse como amar melhor, como reconstruir. E, no meio desse desespero, senti a resposta d’Ele. Não era uma solução imediata, mas um convite à perseverança, à fé e à confiança.
Aprendi que o Amor de Deus não livra-nos das dificuldades, mas dá-nos força para enfrentá-las. Ele transforma-nos, molda-nos, ensina-nos a ser mais fortes, mais sábios. A partir desse momento, escolhi deixar de esconder-me atrás da dor ou da culpa. Escolhi lutar pelo bem-estar do meu filho, a verdade essa eu sei e Deus sabe, segui sem deixar consumir-me no rancor ou na necessidade de vingança.
Hoje, posso dizer que o Amor foi o que salvou a minha relação comigo mesma, o Amor salvou o meu filho. Foi o Amor que ensinou-me a perdoar aqueles que julgaram-me, a compreender que todos nós erramos, mesmo quando queremos acertar. Foi o Amor que ensinou-me a aceitar que não posso mudar o passado, mas posso decidir como moldo o futuro.
E, mais do que tudo, foi o Amor de Deus que mostrou-me que, mesmo nas circunstâncias mais difíceis, Ele não abandona-nos. Ele é a luz que guia, a paz que conforta, a força que sustém. É nesse Amor que escolho viver. E é nesse Amor que encontrei a fé para superar o medo, a injustiça e até a culpa, para ser a mãe que o meu filho precisa e a mulher que Deus me chamou a ser.
“Não faço o bem que quero, mas o mal que não quero, isso eu faço.”