Maria, Nossa Mãe
Recentemente, deparei-me com uma conversa curiosa e, de certa forma, desafiadora com uma conhecida evangélica. Perguntou-me ela, com sincera preocupação, se eu estava bem na fé que professo. Respondi, sem hesitação, que sim, e que sou católica com muito orgulho, amor e, sobretudo, com uma fé sólida e inabalável. A reacção dela, porém, veio como uma espécie de provocação velada: "Quem morreu por ti na cruz foi Jesus, não a mãe dele." Reconheci a sua perspectiva, consciente de que, para muitos evangélicos, Maria é vista como uma figura secundária ou, até mesmo, irrelevante no plano da salvação. Contudo, não pude deixar de expor o meu entendimento com a mesma clareza com que defendo os valores da minha fé.
A certa altura, utilizou uma metáfora que, a meu ver, pecava pela simplificação excessiva da questão: "Se fores a uma consulta médica e, em vez do médico, encontrares apenas a mãe dele, serias consultada por ela?" Era evidente que tentava desqualificar o papel de Maria como intercessora. No entanto, não me deixei intimidar. Sorri e respondi: "Imagina que eu não tivesse recursos para pagar a consulta e, ao encontrar a mãe do médico, lhe pedisse auxílio. Se essa mãe fosse generosa e tivesse uma relação próxima e amorosa com o filho, é muito provável que ela intercedesse por mim, e que, graças a ela, eu acabasse por ser atendida."
A analogia parecia fazer sentido para ela, mas a verdade é que essa visão vai muito além de uma simples comparação. Maria, a mãe de Jesus, não é uma figura qualquer. Deus, em sua infinita sabedoria, escolheu-a, entre todas as mulheres, para gerar o Salvador. Viu nela qualidades extraordinárias, virtudes inefáveis e uma humildade ímpar, que a tornaram digna desse papel sublime. Quem sou eu, então, para não venerar Maria, aquela que Deus elevou a tal dignidade?
Deixe-me ser clara: venerar Maria não é colocá-la no lugar de Deus. A doutrina católica distingue perfeitamente entre "latria", a adoração devida unicamente a Deus, e "hiperdulia", a veneração especial reservada a Maria, que é maior do que a dos santos, mas infinitamente menor do que a adoração ao Criador. Maria é, no entanto, um modelo insuperável de fé e obediência. Basta recordar as suas palavras no momento da Anunciação: "Eis a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra." Que coragem! Que entrega absoluta à vontade divina!
Expliquei-lhe que Maria não é um obstáculo, mas um canal que nos conduz directamente a Cristo. Ela nunca reivindica glória para si própria. Pelo contrário, o seu Magnificat proclama: "A minha alma glorifica o Senhor, e o meu espírito exulta em Deus, meu Salvador, porque pôs os olhos na humildade da sua serva." Como ignorar tal humildade e tal exemplo? Não foi ela quem, na cruz, Jesus nos deu como mãe ao dizer a João: "Eis a tua mãe"? Não foi esse gesto um símbolo da maternidade espiritual que Maria exerce sobre todos nós?
Por que, então, haveríamos de rejeitar essa relação tão especial? Maria não divide; ela une. Ama-la não significa desviar-nos de Jesus, mas aproximarmo-nos ainda mais d’Ele. Quem ama Maria ama o Filho, pois ela é o reflexo mais puro da luz de Cristo.
Por fim, disse-lhe que, sendo todos nós filhos do mesmo Pai, não há razão para que não possamos venerar Maria como nossa mãe espiritual. Que mal pode haver em pedir à mãe de Jesus que interceda por nós junto ao Filho? Tal como numa família, onde os irmãos se ajudam mutuamente no amor ao pai, assim também nós, irmãos na fé, podemos recorrer a Maria para nos aproximarmos de Deus.
Se Maria foi escolhida por Deus para desempenhar um papel tão grandioso, quem sou eu para não a honrar? O meu amor por Maria é, no fundo, um prolongamento do meu amor por Cristo. Amo-a como mãe, não como deusa; venero-a porque ela é o espelho mais perfeito do amor divino.
Se ao menos todos pudessem compreender isto, talvez deixássemos de lado as diferenças e nos uníssemos no essencial: o amor a Deus, a busca pela virtude e a esperança na salvação eterna.