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A mostrar mensagens de dezembro, 2024

Retrospectiva

 Hoje termina mais um ano, e sinto-me inclinada a fazer uma retrospectiva cuidadosa e sentida do que foi este período que agora encerro. Não se tratou apenas de um simples somatório de dias ou meses. Este foi um ano de partilha, de alegria e de inúmeras bênçãos que enriqueceram a minha caminhada, tanto no plano espiritual quanto pessoal. Conheci pessoas extraordinárias, de uma humanidade ímpar, que me estenderam a mão num gesto sincero de amizade e solidariedade. Foram elas que me ensinaram a virtude sob novas perspetivas, revelando-me uma beleza ainda mais profunda e transformadora. As atitudes dessas pessoas marcaram-me pela autenticidade, pelo amor e pela partilha desinteressada. Vieram iluminar ainda mais o meu carácter, inspirando a minha evolução e fortalecendo a minha fé. Por tudo isso, sou imensamente grata. Este foi o ano em que compreendi que a vida não se trata apenas de viver na fé; trata-se de fazer dela um pilar central, uma luz orientadora em cada gesto e decisão. Tr...

Despedida com Gratidão

 O ano está a terminar, e não posso deixá-lo ir sem estas palavras. Por vezes, sinto que o silêncio seria mais fácil, mais seguro. Contudo, a minha essência grita que preciso dizer tudo o que ficou preso. As pessoas não são todas iguais, e é cruel usar mensagens para ofender ou humilhar. Pela última vez, deixo claro: não quero mal-entendidos. Escrevo sabendo que, após estas palavras, nunca mais me dirigirei a si, como fiz até este momento. Foi um prazer conhecê-la, Senhora Teresa. Apesar de tudo – do tempo, das falhas de comunicação, dos desencontros – não posso ignorar os momentos de beleza que vi em si, quando a sua essência brilhava sem esforço, antes de as confusões e feridas nublarem a paisagem. Há pessoas que carregam dentro de si algo único, uma luz que nem os piores conflitos podem apagar. Reconheço que todos temos as nossas lutas, os nossos mecanismos de defesa. Cada um carrega um coração moldado por dores, cicatrizes e batalhas invisíveis ao mundo. A senhora não é diferen...

Caminhar Leve, Ir Mais Longe

 Se me perguntarem como estou, respondo sem rodeios: estou indo. Caminhando, seguindo em frente, mesmo que os passos, por vezes, ainda pareçam incertos. Vou sem pressa, mas com decisão, e o mais importante: com a bagagem mais leve. A vida ensinou-me que os pesos desnecessários acabam por ser os que mais nos travam. Aquilo que insistimos em carregar, mesmo quando já não nos serve, transforma-se em dores persistentes, que se alojam nos ombros e na alma. Foi difícil perceber isso. Passei muito tempo a guardar tudo – memórias, mágoas, expectativas que nunca se cumpriram. Mas chegou o momento de abrir a mala, esvaziá-la por completo, encarar o que estava no fundo e limpar os restos que me prendiam ao passado. Agora, com a bagagem limpa, posso enchê-la novamente. Não de qualquer coisa, não de sobras ou fardos, mas de escolhas conscientes, de vivências que tragam cor e sentido à minha jornada. Quero sensações que despertem em mim um brilho novo, que tragam frescura às rotinas gastas. Quer...

Confissões do Tempo e dos Caminhos

Confesso que a vida, com a sua irónica habilidade de reinventar os nossos planos, me conduziu por trilhos que jamais imaginei pisar. Não me levou pela estrada reta e previsível que desenhei em sonhos ingénuos de há duas décadas. Pelo contrário, arrastou-me pelos becos estreitos e escadas escarpadas que jurei que nunca, mas nunca, escalaria. E não só as subi, como as enfrentei apressada, dois degraus de cada vez, como quem corre de algo ou corre em direção a algo que ainda não consegue entender. Houve amigos cuja importância parecia eterna, ligações que acreditei serem tão sólidas quanto pedra, mas que agora não passam de memórias vagas, quase indiferentes. Em contraste, encontrei almas radiantes pelo caminho – pessoas maravilhosas e improváveis, que transformaram o meu mundo de formas que nem consigo traduzir em palavras, mas que, se os visse anos atrás, provavelmente teria passado ao lado sem oferecer sequer uma troca de olhares ou um café. Lutei, com todas as forças, por causas que j...

O Dom de uma Amizade

 Deus coloca no nosso caminho as pessoas certas, não perfeitas, não santas, mas as certas. Pessoas que chegam para ensinar, transformar, desafiar e, às vezes, até confundir. Entre todas as dádivas, Ele me deu a criatividade — um dom que não posso negar. Toco, desenho, pinto, danço, e, acima de tudo, escrevo. Escrevo muito. Escrevo sobre sentimentos que brotam na alma, sobre acontecimentos que marcam os dias, com sarcasmo ou com delicadeza, dependendo da emoção. Escrevo poemas, descrevo situações, crio histórias, narro eventos, experimento todos os géneros literários, porque minha mente não sabe permanecer em um só lugar. Mas há um tema constante que me inspira: escrevo sobre pessoas. Pessoas que são especiais, não pela perfeição, mas pelas marcas que deixam, sejam elas boas ou más. Algumas entraram na minha vida por acaso, mas uma, em especial, me cativou. Não porque seja perfeita, pois ninguém o é, mas pela forma direta e sincera como se apresenta, pela autenticidade rara de ser q...

Um Presente Indecente

 Ah, o Natal… essa época mágica onde o espírito de união convive lado a lado com as mensagens mais inesperadas e as encomendas mais... sugestivas. Cá estou eu, perdida entre rabanadas e o som incessante de "Jingle Bells", quando recebo a famosa mensagem: "Gostaste da encomenda?" Primeiro, pensei que fosse engano. Uma prenda trocada, talvez. Mas depois abri o pacote. E, querida, o espetáculo começou. Imaginem só: uma vestimenta que devia chamar-se minimalismo erótico. Consegue a proeza de não tapar absolutamente nada, mas ainda assim pretende ser considerada roupa. Claro que o apogeu do génio criativo está no brinquedo estrategicamente pendurado. Assim, à vista de todos, como se dissesse: "Aqui tens a ferramenta, agora só falta a arte." E, surpresa das surpresas, tudo isto veio acompanhado por mensagens recheadas de impropérios, ameaças e raiva – um verdadeiro festival de sentimentos mal resolvidos, como só o Natal pode proporcionar. Chamam-me profissional ...

Híbrida

Sou híbrida. Não sou uma coisa nem outra; sou todas as coisas, um mosaico de paradoxos que se ajustam na imperfeição. Sou a ponte entre o céu e a terra, um fio invisível que une extremos, que acolhe o vento e o fogo no mesmo abraço. Sinto-me, às vezes, ser feita de pura luz, quase etérea, flutuando na brisa silenciosa que acaricia os espaços intocáveis do mundo. Noutras, no entanto, reconheço em mim a densidade das sombras, uma densidade que não pesa, mas que define, que me lembra que a escuridão também é casa, também é mãe. Carrego, dentro de mim, duas almas que não se excluem. Elas coexistem numa dança sem fim, uma coreografia que, vista de longe, parece desarmónica, mas que ao toque, ao sentir, revela-se uma sinfonia perfeita. Num instante, há calma – sou lago imóvel, espelho do céu. No instante seguinte, sou tormenta, ondas revoltas que se erguem como mãos desesperadas a tocar o impossível. Esta oscilação não me confunde, pelo contrário, fortalece-me. Transito entre o claro e o esc...

O Vazio da Inocência Perdida

Nasci com o céu apagado, sem estrelas a brilhar, Onde os dias se arrastavam, sem nunca alcançar, O abraço acolhedor que me devia ser dado, No meu peito, só um vazio, um coração desolado. O corpo pequeno carregava segredos imensos, Sofrimentos disfarçados, suspiros intensos. O toque que chegava, não vinha em carinho, Mas em pressa, em ferida, em dor de caminho. O sorriso nunca surgia, como se um fardo pesado Me impedisse de viver, de sonhar a um lado. Quando me olhavam, via-se o medo a crescer, Os olhos calados, mas a alma a não compreender. O vento que trazia a noite, denso e sombrio, Trazia mais que escuridão, trazia o vazio. A porta que rangia, deixava o tremor a chegar, E o cheiro da dor fazia o corpo se calar. Havia mais que falta de comida, luz, ou gás, O que eu sentia era o eco do jamais. Os braços que devia sentir como aconchego, Levavam-me ao abismo, tirando-me o sossego. O que deveria ser terno, transformava-se em medo, Como se o corpo fosse um espelho quebrado, sem segredo. N...

Benditos Corações que Escolhem Ficar

 Benditos sejam os que cruzam o nosso caminho e, em vez de causar tempestades, trazem a brisa suave que acalma e serena. Benditos sejam aqueles que, sem pressa e com leveza, nos alcançam com palavras que aquecem a alma e dissipam os medos. Não invadem, não exigem, apenas tocam, com cuidado e respeito, como quem entende que, por dentro, somos feitos de cristal. Que bênção são esses que falam o idioma da paz, cuja presença não perturba, mas aconchega; são estes os que plantam serenidade nas terras mais áridas de nosso coração. Benditos sejam os que olham para nós e veem além das nossas falhas e imperfeições. Aqueles que não nos julgam pelos pedaços quebrados, mas sim pela força com que seguimos adiante. São eles que escolhem aceitar-nos inteiros, com tudo o que há de sombra e luz, sem tentar moldar-nos ao que idealizam. Como é raro e precioso encontrar quem nos abrace não apesar dos nossos erros, mas com eles, como se cada fragilidade fosse apenas uma nuance na tela da nossa humanida...

Carta à Morte

 Querida Morte, Hoje decido escrever-te, como quem se dirige a uma velha conhecida que nunca encontrou pessoalmente, mas cuja sombra é constante companhia. Escrevo-te no silêncio da minha contemplação, naquele espaço onde as palavras surgem despidas de qualquer pretensão e onde o medo não encontra guarida. Não me acomodo na tua presença, mas também não te repudio; és a certeza incómoda que vagueia pelo limiar do meu ser, imperturbável, indiferente ao ruído que fazemos sobre a efemeridade que carregamos. És um enigma imortal, impossível de ignorar e demasiado intangível para entender completamente. Não és a vilã que tantos pintam, nem a redenção que outros procuram; és apenas inevitável. Um reflexo da passagem do tempo, um portal inevitável através do qual todos os que amei, amo ou amarei passarão — e que um dia também será meu de atravessar. Mas explica-me, se és a guardiã do equilíbrio universal, por que te sentes, por vezes, tão arbitrária? Por que levas os sorrisos inocentes que...

A Saudade da Minha Essência

 Hoje, ao mergulhar nos confins da minha alma, permito-me recordar quem um dia fui: uma criança deslumbrada com o mundo, uma pequena criatura de risos soltos e despreocupados, onde a alegria fazia do meu peito a sua morada constante. Saudades de um tempo em que viver era sinónimo de leveza, em que os dias pareciam infinitos e cada instante era uma bênção que, ainda que inconsciente, era plenamente aproveitada. Relembro com uma ternura melancólica a pureza que outrora habitava em mim. Uma inocência imaculada, quase sagrada, de quem desconhecia a mácula do mundo, de quem nunca havia provado o amargo veneno do pecado ou da culpa que agora, em certos momentos, ousa percorrer as veias da minha existência. Que saudade, não apenas das ações simples e genuínas, mas do estado natural da minh’alma, limpa e resplandecente, como um riacho virgem que corre sereno por entre pedras intocadas. Se fecho os olhos, é impossível não ver a pequena criança que um dia fui. Ela ainda vive aqui, perdida em...

Luz e essência do Natal.

 Neste Natal, convido-vos a uma reflexão profunda sobre o verdadeiro sentido desta época que transcende os presentes cintilantes e as mesas fartas. Deixem-me partilhar convosco o que o meu coração sente, o que a minha alma clama e o que considero ser a essência maior de todo este período festivo. Para mim, Natal é sinónimo de amor. Mas não apenas aquele amor que partilhamos com os nossos familiares e amigos mais próximos. Falo de um amor universal, pleno, desinteressado, aquele que nos une enquanto humanidade, independentemente das nossas crenças, circunstâncias ou diferenças. O verdadeiro espírito natalício impele-me a olhar para o próximo com genuína empatia, a tentar enxergar a sua dor, as suas lutas, e a sentir o desejo ardente de ser, ainda que por um breve momento, a esperança que aquece corações cansados. Partilhar o que tenho, por mais modesto que seja, torna-se não um gesto de obrigação, mas de prazer e de conexão com o outro. Reconheço que, numa sociedade frequentemente m...

A Gratidão que Transforma: Uma Jornada de Aprendizagem e Crescimento

Há momentos na vida em que nos sentimos atravessados por um turbilhão de emoções, sentimentos de alegria e dor que se entrelaçam e formam a tapeçaria da nossa existência. São as vivências, as pessoas que cruzam o nosso caminho e as lições que nos acompanham que, de forma sutil, mas incansável, vão moldando quem somos e quem estamos a tornar-nos. Hoje, faço uma pausa para refletir e expressar a minha profunda gratidão a todos que, de alguma forma, deixaram a sua marca na minha jornada. Primeiro, aos que me acolheram. Aqueles que, com gestos silenciosos e palavras carinhosas, me mostraram que não estou sozinha no mundo, mesmo nas horas mais sombrias. Quero agradecer àqueles que seguraram a minha mão quando eu precisei de uma direção e cuja presença me deu forças para continuar. Foram essas mãos estendidas, esses corações generosos que, muitas vezes, me ajudaram a encontrar a minha própria voz e a força para caminhar em frente. Agradeço também aos que me ouviram. Aqueles que se dispuseram...

Mensagem de Natal.

 Hoje enquanto estava no voluntariado estas palavras estavam na minha mente e decidi escrever e partilhar. As palavras surgem por um motivo, tem um destinatário que se for a vontade de Deus as irá ler. Um dia talvez. Mas neste momento não é a altura ainda, a personagem que ela construiu de mim está presente na sua mente, a que eu construi está na minha, num futuro. Porque há momentos na vida em que as palavras falham, mas o coração, ainda assim, encontra formas de falar. E o Natal... o Natal é esse tempo em que os silêncios dizem mais do que qualquer voz, onde as ausências gritam mais do que presenças, e onde a luz suave que invade cada canto nos força a olhar para o que evitamos, a sentir o que guardamos e, talvez, a redescobrir o que esquecemos. Existem laços que não seguem conosco, mas que jamais se desfazem. Ficam ali, numa dobra discreta da alma, resistindo ao tempo e às distâncias. Não é a presença que os define, mas o impacto que tiveram, as marcas que deixaram. E se há mágo...

Virada do Avesso

Provoca-me. Não com gestos óbvios ou intenções que qualquer um possa adivinhar. Provoca-me com a intensidade que reside na demora de um olhar, na hesitação proposital de um toque que não chega. Gosto de quando jogam o jogo do desejo sem que as regras sejam ditas, quando as promessas pairam no ar, carregadas de antecipação. Mas antes que avances – e eu sei que queres avançar – deixa-me avisar-te: com alguém como eu, nada será tão simples assim. Sou mulher de ritmo inquieto, de vontades que oscilam entre a fúria e a delicadeza. Se queres mesmo captar-me, então entra no compasso, porque não sou fácil de alcançar. Tens de saber tocar as notas certas – a sugestão, a pausa, o mistério. Não sou do tipo que se rende a evidências; quero ser tomada pela dúvida, pelo prazer de um jogo onde o controle é dividido e a vitória nunca é garantida. Consegues fazer isso? Podes tentar, mas já te aviso que o meu limite não está onde tu imaginas. Queres desafiar-me? Ótimo, eu aceito. Gosto quando tentam. Ma...

Beleza de Ser Vulnerável

 Passei grande parte da minha vida a ser a base sobre a qual os outros se apoiam. Fui aquele pilar firme, quase inabalável, que sustenta tudo quando as estruturas ao redor começam a ceder. Fui o farol em noites de tempestade, o ponto de equilíbrio no meio do caos. Não foi uma escolha consciente, mas antes um reflexo, uma adaptação forçada às circunstâncias que me rodearam. Habituada a ser a resposta para o que é incerto, a força tornou-se a minha identidade. A certa altura, vestir essa armadura deixou de ser uma defesa temporária e transformou-se numa segunda pele. Ao longo do tempo, percebi algo peculiar: quanto mais forte aparentava ser, menos as pessoas à minha volta conseguiam ver-me noutra luz. O mundo passou a acreditar na minha inabalável resiliência, e, em resposta, quase me convenci disso também. Contudo, no processo, esqueci como era baixar a guarda. Esqueci como era estar sem defesas, como era aceitar o momento em vez de sempre o tentar segurar com as duas mãos. Tornar-m...

Tramas do Tempo

 Ah, se eu pudesse! Se as minhas mãos frágeis tivessem a destreza de uma artesã divina, há muito teria reparado os erros que cruzei ao longo da vida. Imagino-me, sentada diante de um tecido antigo, a tramas já gastas pelo peso do tempo, mas ainda forte o suficiente para aguentar novas linhas, novas histórias. Pegaria uma agulha fina e firme. Primeiro, alinhavaria os pedaços rasgados de decisões mal feitas, pontos ligeiros, delicados, só o suficiente para sustentar o tecido do passado enquanto ajusto os detalhes. Não há pressa para esconder as marcas; antes quero integrá-las. São as cicatrizes das escolhas que me formaram, que mesmo imperfeitas moldaram o que sou hoje. Cada fio que passasse seria impregnado da sabedoria tardia que só os anos podem trazer. Depois, traria cores ao cinzento do que ficou para trás. Bordaria flores de pétalas largas e vibrantes por cima da saudade. Lilases, azuis e dourados... Ah, que exuberância de matizes. Transformaria cada ausência numa lembrança cel...

Luz de Belém.

 A luz de Belém chega até mim como uma chama viva, ténue mas imensamente poderosa, portadora de um simbolismo que transcende o espaço e o tempo. Para mim, esta luz é mais do que um simples clarão ou um ritual. É um pedaço da eternidade, o reflexo do mistério de um Deus que escolheu iluminar o mundo através do nascimento humilde de Jesus em Belém. Imagino os pastores na noite do grande anúncio, as estrelas tão vívidas como promessas num céu profundo, a luz celestial a descer sobre eles enquanto uma voz lhes sussurra: "Não temais." Esta mesma mensagem ressoa em mim quando seguro a pequena chama que percorreu mares, terras e fronteiras para chegar às nossas mãos. É, para mim, como segurar um eco da própria história divina. A partilha desta luz não é um mero ato simbólico, mas uma proclamação da nossa fé comum, uma declaração de esperança e fraternidade. Sempre que estendo a chama a outro, sinto que estou a entregar mais do que fogo; estou a oferecer um gesto tangível de paz, sol...

Integridade e Libertação

 Se estou à procura da aprovação dos outros, já abdiquei, ainda que inconscientemente, de uma parte essencial da minha própria essência: a minha integridade. Este pensamento, por mais incómodo que seja, revela uma verdade brutal e inescapável sobre a condição humana. Desde cedo, somos condicionadas a procurar validação alheia, a ajustar os contornos da nossa alma às expectativas, às normas e aos caprichos de quem nos rodeia. É como se, ao buscar esse reflexo favorável nos olhos dos outros, perdêssemos de vista o espelho interno que nos devolve quem realmente somos. Na busca pela aprovação, a autenticidade é a primeira vítima. Afinal, como posso ser fiel aos meus valores mais íntimos se moldo cada palavra, cada gesto e cada decisão para agradar a terceiros? Cada concessão, por mais insignificante que pareça, é um pequeno desvio daquilo que eu realmente sou; é como riscar delicadamente a superfície de uma pintura que, embora não perfeita, é unicamente minha. E ao longo do tempo, esse...

Escrever por escrever.

Escrever por escrever é um castigo amargo, um cárcere de palavras que não querem nascer. Como fingir no papel o que não vive no peito, como inventar rancor se só carrego mágoa mansa, essa sombra fria que nem grita, nem exige? Pedem-me que solte o ódio, mas o ódio é fogo que não possuo. Pedem-me que ataque com letras afiadas, mas minha pena pesa quando não sabe a quem ferir. Como posso escrever para quem não cabe em minha vontade de escrever? Ah, esse tormento de ser mal interpretada, de ver minha alma vestida por mãos alheias, cada verso arrancado do meu silêncio transformado em arma contra quem nem pensei. Que delírio é esse de roubar intenções e plantar destinatários onde só há vazio? Escrever é voo, não prisão. E me cobram asas quando só tenho cansaço. Querem que as palavras sejam veneno, mas eu só sei entregá-las em suas formas cruas, sem artifício, sem peso imposto, tão livres quanto minha mágoa deseja ser. Mas sabem o que me dói? Não é escrever… é ser obrigada a explicar o que é ...

Amei

 Eu amei com a coragem de quem não teme se perder, com a intensidade de quem sabe que amar é se expor,  é se despir das armaduras, das certezas, e confiar no outro como quem confia no próprio chão. Teci o amor com fios de verdade, com abraços que eram casa, com beijos que selavam promessas feitas no escuro da noite. Eu amei pelo todo, pelo eterno, pelo agora. Mas o que encontrei foi vazio, um eco distante onde deveria estar teu coração. Coração que não sabe amar, não sente saudades, não chama pelo nome certo. Um coração que finge calor enquanto gela quem o toca, que ilude com promessas sussurradas e foge quando a luz do dia pede respostas. Eu gritei por reciprocidade, por sentir o mesmo peso, o mesmo desejo, a mesma entrega. Mas enquanto eu carregava o mundo pra te alcançar, tu simplesmente me deixavas nas margens do teu querer inconstante. Amar não é isso, não pode ser isso. Amar é ser lar, é ser chão. É abraçar no meio da tempestade e não soltar mesmo quando os ventos rugem ...

Eu sinto

 Eu sinto que o amor tem essa força magnética, esse encanto que não se mede, não se pesa, não se quantifica. Ele apenas é, inteiro, autêntico, imenso. Eu sei disso porque trago em mim um coração que ama. Um coração que vive, respira e pulsa por um sentimento que, tantas vezes, me desafia e me reergue, tudo ao mesmo tempo. Amar, para mim, não é passageiro nem superficial. É raiz profunda, é saudade constante, é um reflexo de quem eu sou. Saudade, aliás, é irmã do amor. Caminha lado a lado com ele, me lembrando que o verdadeiro sentimento permanece, mesmo que os corpos se afastem ou que o tempo teime em passar. Há saudades de um beijo que ilumina a noite, saudades de acordar com o perfume do outro misturado ao meu. Existe uma ausência presente, que sussurra no fundo do peito, como um eco persistente: “Você ainda ama.” Amar é, para mim, sobre entrega e reciprocidade. Não acredito em sentimentos pela metade. O amor exige presença por completo, requer que cada abraço, cada palavra, seja...

A Coragem de Ser Eu

 Não nasci para caber nas molduras desenhadas por outras mãos, nem para me ajustar aos contornos limitados de uma ideia de perfeição que nunca desejei para mim. Não sou, nunca fui, nem serei o protótipo idealizado de quem os outros esperam que eu seja. Não me movo ao som de expectativas alheias, porque as minhas, essas, já são suficientemente inquietantes e exigentes. Afinal, sou feita de carne, nervos, sonhos e um desassossego constante que me leva a buscar o inominável – o que vive para além da aparência e do supérfluo. Carrego em mim uma vocação inabalável para sentir, para ser, para existir em toda a minha densidade e contradição. Sinto de uma forma que talvez incomode; ora demasiado, ora de menos, mas sempre de verdade. O meu coração é vasto e as suas ondas imprevisíveis, e há dias em que até eu me surpreendo com a corrente que me atravessa. É que a vida pulsa em mim com um ímpeto bruto, e não sou capaz de a diluir para caber em normas ou caixas apertadas. As minhas emoções nã...