Reflexão pessoal - Preparação

 "Mesmo longe dos altares, Deus caminha connosco — porque Ele habita onde há fé viva, onde há coração disponível, onde há silêncio que escuta. Mas nós, como católicos, sabemos: o centro da nossa fé, o cume da nossa espiritualidade, é a Eucaristia. Por isso vamos à Igreja no Dia do Senhor, não por obrigação, mas por amor, por fidelidade, por necessidade de alma."

Não procuro a Deus por me considerar justa ou especial. Procuro-O porque sei o quanto sou frágil. Sei quantas vezes falho, duvido, me perco. E é precisamente por isso que me lanço aos braços de Deus — porque só Ele me conhece por inteiro e, mesmo assim, não desiste de mim. Jesus Cristo não veio ao mundo para os sãos, mas para os doentes (cf. Lc 5,31). E eu reconheço, com humildade, a minha enfermidade espiritual: preciso d’Ele, todos os dias.

Mas este Deus que procuro não está escondido apenas nos templos. Está presente na Igreja, sim — de modo real e sacramental — mas também caminha connosco no quotidiano, nas estradas da vida, nos desertos e nas encruzilhadas. A nossa fé é uma fé peregrina, que leva o sagrado no coração, mesmo quando os pés estão longe do altar. Como diz São Paulo: “Não sabeis que sois templo do Espírito Santo?” (1 Cor 6,19). Onde há um coração voltado para Deus, aí Ele faz morada.

Contudo, como católica, sei que a Eucaristia é insubstituível. Ir à Igreja no Domingo é mais do que um gesto exterior — é uma resposta amorosa ao apelo de Jesus: “Fazei isto em memória de Mim” (Lc 22,19). Ele instituiu a Eucaristia na Última Ceia, oferecendo o Seu Corpo e Sangue, não como símbolo, mas como presença real. E ao participarmos na Missa, unimo-nos ao Sacrifício do Calvário, renovado de modo incruento em cada altar.

A Eucaristia é o alimento da alma, é sustento no desânimo, é força para caminhar. Santo Irineu dizia: “A nossa maneira de pensar está de acordo com a Eucaristia, e a Eucaristia confirma o que cremos.” É por isso que o Dia do Senhor — o Domingo — é sagrado para nós. É memorial da Ressurreição, é tempo de encontro, de louvor, de comunhão. É o dia em que o Céu toca a Terra de maneira especial.

E não caminhamos sozinhos. A Igreja ensina-nos a honrar os santos, não como deuses, mas como nossos irmãos que já chegaram à meta. Eles intercedem por nós, rezam connosco, são exemplos de fé vivida. Como diz a Carta aos Hebreus: “Estamos rodeados por uma tão grande nuvem de testemunhas” (Heb 12,1). Honrá-los é reconhecer a ação de Deus nas suas vidas e aprender com o seu testemunho. Não é idolatria, é gratidão. Jesus mesmo falou: “Aquele que serve a Mim, o Pai o honrará” (Jo 12,26).

E sim, Ele ensinou-nos a honrar com verdade, com respeito, sem exageros ou teatralidades. A fé que agrada a Deus é a que nasce do coração sincero. Como ensinou no Evangelho: “Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de Mim” (Mt 15,8). Honrar a Deus e aos santos não é encenar piedade — é viver com coerência, é deixar que a fé se traduza em atitudes, em escolhas, em gestos de amor.

A maior bênção que Deus nos dá não é necessariamente exterior. Os maiores milagres são interiores: conversão, perdão, cura da alma, renascimento da esperança. Quando nos entregamos a Deus com humildade, Ele age — e o maior sinal do Seu poder é o coração transformado. O Reino de Deus, dizia Jesus, “não vem de forma visível”, porque “o Reino está dentro de vós” (cf. Lc 17,20-21).

Assim, todos os dias, mesmo quando não estou na Igreja, procuro caminhar com o coração voltado para o alto. Mas é na Missa que tudo encontra sentido. É diante do altar que me recordo do preço da minha salvação. É no Pão Consagrado que reconheço Aquele que me sustenta. E é por isso que, mesmo sendo peregrina, volto sempre ao lugar onde Ele Se faz presente de forma única: a Eucaristia.

Procuro fazer com  que cada dia seja vivido com este amor consciente, com esta fé encarnada e com este desejo ardente de sermos, no mundo, sinais vivos da presença de Deus. Que Ele habite em nós, como desejou desde o princípio. E que nós, como filhos, respondamos com confiança, entrega e verdade.

Estar presente numa igreja não significa, automaticamente, estar na presença de Deus. A verdadeira comunhão com o Senhor não se mede pela presença física, mas pela disposição interior do coração. Muitos estão de corpo na missa, mas de alma ausente — fechados ao perdão, agarrados ao julgamento, presos à crítica ou à maledicência.

Ir à Igreja e manter o coração endurecido, a mente mergulhada na comparação, na inveja ou no desprezo pelos outros, não é sinal de santidade, mas de cegueira espiritual. Jesus não veio para os justos, mas para os pecadores arrependidos (cf. Lc 5,32). Ele quer habitar em nós, mas não força a entrada: espera um coração humilde, contrito, sincero.

Por isso, no início de cada Missa, antes de escutarmos a Palavra ou de comungarmos o Corpo de Cristo, fazemos o Ato Penitencial — um gesto essencial que, muitas vezes, passa despercebido, mas que é, na verdade, um primeiro passo de purificação e verdade:


“Confesso a Deus todo-poderoso

e a vós, irmãos,

que pequei muitas vezes

por pensamentos e palavras,

actos e omissões,

por minha culpa,minha culpa, minha tão grande culpa.

E peço à Virgem Maria,

aos Anjos e Santos

e a vós, irmãos,

que rogueis por mim a Deus, nosso Senhor.”


Estas palavras não são apenas fórmula litúrgica: são um exame de consciência vivo, feito na presença de Deus e da comunidade. Ali reconhecemos que o nosso pecado não é apenas feito de gestos visíveis — muitas vezes, ele nasce no pensamento, nas palavras que magoam, nas omissões que calamos por comodismo ou indiferença.

E é aqui que entra a grandeza da misericórdia divina. Jesus, depois da Sua Ressurreição, instituiu o sacramento da Confissão, entregando aos Apóstolos — e através deles, à Igreja — o poder de perdoar os pecados em Seu nome. Como está escrito no Evangelho:

“Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos.” (Jo 20,22-23)

Este mandato de Cristo é claro: o perdão dos pecados faz parte da missão confiada à Igreja. E por isso, a Confissão sacramental não é invenção humana, nem costume opcional — é vontade expressa do Senhor. Ele conhece o peso que carregamos na alma e oferece-nos um lugar onde podemos deixá-lo com segurança: no confessionário, onde o sacerdote age “in persona Christi”.

Mas atenção: não podemos comungar dignamente se estivermos em pecado grave. São Paulo adverte-nos com palavras sérias:

“Quem comer o pão ou beber o cálice do Senhor indignamente será culpado do Corpo e do Sangue do Senhor. Examine-se, pois, cada um a si mesmo…” (1 Cor 11,27-28)

O Ato Penitencial na Missa perdoa os pecados veniais (leves), mas os pecados mortais precisam de ser confessados sacramentalmente. Porque a Eucaristia não é um símbolo vazio — é Jesus vivo. E recebê-Lo exige um coração purificado, arrependido, reconciliado.

Por isso, antes de comungar, somos convidados a dizer com humildade:

“Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha morada, mas dizei uma palavra e serei salvo.”

Ser cristão não é mostrar uma aparência, mas viver a coerência. Não basta ir à Missa e repetir palavras bonitas, se o coração continua fechado ao perdão, à caridade e à verdade. Jesus disse:

“Nem todo aquele que Me diz: ‘Senhor, Senhor’ entrará no Reino dos Céus, mas aquele que faz a vontade do Meu Pai.” (Mt 7,21)

A vontade do Pai é que nos amemos uns aos outros, que perdoemos, que vivamos em verdade. E a confissão regular é um dos caminhos mais belos para esse reencontro com Deus e connosco mesmos. Ali, o Senhor não nos humilha — Ele levanta-nos. Não nos condena — Ele cura-nos.

Que a Missa, especialmente ao Domingo, não seja apenas um hábito, mas um verdadeiro encontro com Cristo. E que, reconciliados com Deus e com os irmãos, possamos comungar com o coração limpo, abertos ao Amor que nos transforma.

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