Carta de uma Mãe Ferida ao Mundo — e ao Deus que Me Sustém

Sou mãe.

Não sou escritora. Não sou figura pública. Não sou ninguém de especial, apenas uma mãe comum, de carne e osso, de coração aberto e alma despedaçada. Escrevo estas palavras não para chamar atenção, nem para procurar compaixão, mas porque a minha dor exige ser dita. Porque não posso ficar em silêncio diante do que aconteceu à minha filha.

Ela foi agredida. Covardemente. Brutalmente. Sem razão, sem compaixão, sem humanidade. Feriram-na com murros, pontapés, ódio. Fraturaram-lhe o corpo. Feriram-lhe a face. Deixaram-na no chão como se não fosse gente. Como se a vida dela valesse menos do que um telemóvel ou um passe.

E eu, mãe, cheguei depois. Corri. Tremi. Gritei. Quando a vi, não era só ela que estava partida. Era eu também. Porque quando se magoa um filho, a dor não fica só dentro dele, ela espalha-se por todo o corpo da mãe, invade os pulmões, estrangula o peito. Cada nódoa negra, cada ferida aberta no corpo dela é uma ferida em mim, um grito que ecoa dentro do meu peito.

Mas a dor maior — maior do que a violência em si — é a sensação de impotência. De não ter estado lá para impedir. De não ter conseguido abraçar a tempo. De não ter apanhado aquele golpe no lugar dela. Que mãe não desejaria isso? Que mãe não gostaria de poder tirar todo o sofrimento dos seus filhos?

Disseram-me que foi “um assalto”. Que foi “mais um caso”. Palavras frias, vazias, que não dizem nada perante o que vivemos. A minha filha não é um “caso”. É uma jovem com sonhos, com planos, com alegria e esperança. É uma menina boa, doce, cheia de vida. E agora vive com medo de sair à rua. Não dorme bem. Chora sem sempre saber explicar o porquê. E eu, mãe, não sei sempre o que fazer — apenas a abraço, seguro a sua mão, e oro.

Sim, oro. Porque se há algo que ainda me sustém nesta tempestade, é Deus. O Deus que me vê quando me escondo a chorar no silêncio da casa de banho. O Deus que conhece o coração da minha filha melhor do que eu própria. O Deus que, mesmo em silêncio, está presente — que consola, que dá força, que promete justiça.

Acredito, com tudo o que sou, que Deus cuidará dela. Que haverá cura — dentro e fora. Que a sua alegria há de voltar. Que ela voltará a andar na rua sem medo. Que ela não será definida pelo que lhe fizeram, mas pela força com que se reergue.

Escrevo esta carta para que o mundo ouça. Para que o país desperte. Para que não se finja que isto é “normal”. Porque não é. Agredir alguém sem motivo não é normal. Destruir o corpo e o rosto de uma jovem não é normal. E o silêncio, a indiferença, também não são normais.

Sou mãe. E por ela, levantarei a voz. Pela minha filha — e por todas as outras jovens que foram agredidas, humilhadas, esquecidas. Pela dor de todas as mães que, como eu, já tiveram de conter o grito para poderem ser fortes.

A minha filha foi agredida. Mas não será destruída. Deus cuidará. Eu também.

E juntas, vamos levantar-nos.

Com dor, mas com fé,

Uma mãe — inteira no amor, ferida na alma, firme em Deus.

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