A nobre arte de ser detestada (por quem não faz falta nenhuma)

 Há coisas na vida que são inevitáveis: o IRS, o vizinho que fura paredes ao domingo de manhã, e o facto absolutamente delicioso de que... há pessoas que não gostam de mim.

E que bom.

Não é ironia — é gratidão verdadeira. Digna de levantar as mãos ao céu com um suspiro de alívio e dizer: “Obrigadinha, meu Deus, por esse livramento com laço e papel de embrulho.”

Porque vamos esclarecer uma coisa desde já: nem todos os desafetos são tragédia. Alguns são verdadeiros actos de misericórdia divina. Gente que não gosta de mim? Benditos sejam!

Deus viu o que eu não vi, soube o que eles disseram nas costas, percebeu o cheiro da falsidade a três quilómetros de distância e fez o que tinha de fazer: afastou. Cancelou. Rebobinou o filme e tirou-os do elenco da minha vida.

E eu? Eu aplaudo. De pé. Com palminhas e um sorriso ligeiramente vitorioso.

Mas não nos fiquemos pela espiritualidade. Vamos analisar a coisa com método científico e algum humor clínico.

Geralmente, quem não gosta de mim encaixa num padrão muito específico. São pessoas que vivem à base de suposições, com dietas ricas em indiretas, ruminantes emocionais que digerem ressentimentos durante anos. E que, claro, tecem opiniões sobre mim com a autoridade de um crítico de cinema que nunca viu um filme inteiro.

Há quem diga:

– “Oh, ela não gosta de ti.”

E eu respondo com a calma de quem acabou de aplicar uma máscara facial e está a beber chá de limonete:

– “Que alívio. Já estava a achar que alguma coisa em mim estava a falhar.”

Porque, vamos lá ver: ser universalmente adorada é uma tarefa hercúlea. Só mesmo o pão quente é capaz disso. E mesmo assim, há quem prefira torradas frias.

Há algo de profundamente libertador em não ser consensual. As pessoas têm esta mania moderna de querer agradar a toda a gente, como se fossem rissóis em festa de criança — acessíveis, simpáticos, previsíveis.

E eu? Eu sou mais croquete com mostarda Dijon. Elegante, saborosa, mas não é qualquer paladar que aguenta.

E depois há aquela desculpa clássica que se ouve quando alguém é confrontado com a sua antipatia gratuita:

– “Ai, não é nada pessoal. É o feitio dela.”

Ora bem. Se fosse mais pessoal do que isto, já vinha com assinatura reconhecida no notário e dedicatória à mão. “Para ti, que me tiras do sério sem sequer falares. Com carinho, a tua inimiga imaginária.”

Na verdade, e com alguma pena minha, as pessoas que não gostam de mim são quase sempre profundamente aborrecidas. É um padrão. São cinzentas por dentro, e ligeiramente bege por fora. Vivem a vida em modo “copiar-colar”, têm o carisma de uma esponja húmida e passam o dia a confundir frontalidade com agressividade, opinião com arrogância, e autoestima com exibicionismo.

Sou constantemente acusada de “ser muito”. Muito directa. Muito intensa. Muito confiante. Muito eu. E isso, para os apóstolos da mediocridade emocional, é intolerável.

Mas vamos lá: ser “muito” só incomoda quem é “pouco”.

Aliás, acredito piamente que há gente que não gosta de mim... porque eu gosto de mim.

E isso é uma heresia, não é? Uma mulher gostar de si própria, sem pedir desculpa, sem baixar os olhos, sem fazer aquele teatrinho de falsa modéstia:

– “Oh, eu? Linda? Imagina! Só demorei 40 minutos a fazer este ar de que acordei assim.”

Mas o que estas pessoas não percebem é que eu não acordo todos os dias para as agradar. Nem a elas, nem ao algoritmo, nem ao espírito do Santo António.

Eu acordo para ser evolução. Para caminhar, mesmo aos tropeços, no sentido da minha verdade. Tento, como posso, andar no caminho reto de Deus — mesmo com curvas na estrada e uma ou outra pedra no sapato.

E se isso faz de mim um alvo de antipatias? Olha, que sejam. Não vim ao mundo para fazer figura de bibelô em prateleira de sala.

A vida é demasiado curta para andar a coleccionar simpatias plásticas e elogios de gente que não sabe a diferença entre "autêntica" e "agradável". Eu não sou embalagem bonita para agradar ao supermercado social. Eu sou conteúdo. Sou sal. Sou especiaria rara. Às vezes arde. Mas nunca passa despercebida.

E por isso, deixo aqui esta dedicatória:

A todas as pessoas que me detestam em silêncio (ou em grupo de WhatsApp):

Obrigada. A sério. Pela motivação. Pelo treino. Pela energia gratuita que me dão só por existirem.

Vocês fazem parte do meu cardio emocional. Queimem, meus amores. Queimem.

Porque eu sou evolução. Tento andar no caminho reto de Deus, sem me tornar uma cópia plastificada de ninguém. Sou feita de amor, mas com arestas. E Deus, que tudo vê, livrou-me de vocês com uma classe que nem eu conseguiria. Livrou-me com requinte. E por isso, bendita seja a vossa ausência. Amém.

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