1 de Maio – A Mãe que Habita o Silêncio

Hoje é o Dia do Trabalhador. Mas não é sobre o labor do mundo que me debruço; é sobre o labor do amor. Sobre o ventre que me gestou, sobre a alma que me moldou, sobre a mulher que hoje completaria 78 anos — se a eternidade não a tivesse já chamado para si.

Há datas que não se inscrevem apenas no calendário, mas na carne. O primeiro de Maio tornou-se, para mim, uma dobra no tempo: um lugar onde a ausência se faz presença e a saudade se manifesta como uma brisa antiga que ainda sabe o caminho do coração. A minha mãe — mulher de estatura majestosa, com 1,86 metros de força e integridade — foi a primeira paisagem do mundo que conheci. O seu corpo foi casa, e a sua voz, alicerce.

Carrego-a comigo, não como memória estática, mas como pulsação viva. Habita-me nos gestos, no modo como abraço a vida, na forma como escuto, como falo, como amo. Honro-a ao procurar ser justa, ao não recuar diante da verdade, ao cuidar dos outros com a dignidade que ela me ensinou. Era uma mulher de olhos fundos, tão vastos como o oceano — olhos que sabiam ver para lá da superfície, que compreendiam antes de julgar.

Recordo-lhe o cheiro — inconfundível, como um perfume que só a alma reconhece. As mãos grandes, seguras, feitas para acolher o mundo e curar feridas invisíveis. Os cabelos grisalhos, belamente indomáveis, com caracóis largos como ondas a quebrar num mar sereno. Havia nela uma beleza que não cabia em espelhos, uma beleza que vinha da profundidade do carácter, da firmeza tranquila, da sabedoria herdada da vida e não dos livros.

A minha mãe não foi perfeita, nem precisava de o ser. Amou-me com os seus defeitos e virtudes, e isso basta. Porque o amor verdadeiro não é feito de idealizações, mas de entrega. Fez o melhor que sabia, o melhor que podia — e isso, para mim, é heroísmo em estado puro.

Hoje, ergo-lhe esta homenagem simples, mas sentida, na esperança de que, onde quer que esteja, lhe chegue esta voz — uma voz feita de palavras, sim, mas sobretudo de gratidão. Peço a Deus que não me deixe esquecer-lhe os traços do rosto, o timbre da fala. Que me conserve viva a lembrança dos pequenos gestos que faziam dela um universo inteiro.

Parabéns, minha querida mãe. Neste dia que te pertence mais do que ao mundo do trabalho, celebro-te como a minha origem, o meu espelho e a minha raiz. Continuas a ser a bússola secreta que me orienta. Continuas a ser casa.

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