Entre o que encanta e o que permanece: a verdade silenciosa dos afectos

Há uma diferença abismal entre ser desejado e ser valorizado. Entre o toque que arrepia e o gesto que acolhe. Entre quem olha para o corpo e quem vê a alma. Nos dias de hoje, em que tudo se consome com pressa — até os sentimentos — torna-se urgente reaprender o que significa amar verdadeiramente, e, sobretudo, escolher com consciência quem deixamos entrar na nossa vida.

Qualquer homem ou mulher pode oferecer-te uma presença momentânea, um sorriso encantador, uma química arrebatadora. Mas quantos, de facto, te oferecem paz? Quantos te respeitam quando ninguém está a ver? Quantos escolhem ser leais não por obrigação, mas por princípio? Vivemos tempos em que as aparências valem mais do que os valores — e é fácil iludir-se com gestos bonitos, quando o interior permanece por revelar.

A beleza atrai, sim. É natural, é humana. Mas a beleza, por si só, é efémera — desgasta-se com o tempo, perde a força quando não encontra profundidade. E quando a aparência se esgota, o que sobra? É aí que se revela a essência: o carácter, a empatia, o respeito mútuo. Porque o verdadeiro valor de um relacionamento não está na intensidade com que começa, mas na serenidade com que se sustenta.

Se já passaste por uma relação onde a tua paz foi moeda de troca, sabes o quanto custa manter um sorriso quando a alma grita. Estar com alguém que te rouba a tranquilidade é como viver numa casa bonita construída sobre ruínas: pode encantar por fora, mas desmorona por dentro. Amor que exige que te anules, que te encolhas, que te percas de ti para caber no outro — não é amor. É desgaste.

Há uma verdade crua mas libertadora: quem te acrescenta não te confunde. Quem te quer de verdade, não alimenta incertezas. A presença certa traz clareza, não dúvidas. Amor verdadeiro não te consome — sustenta-te. Eleva-te. Fortalece-te. E mesmo nos dias difíceis, escolhe ficar.

A pergunta que fica é: estás a escolher por carência ou por consciência? Por impulso ou por propósito? Amar não é encontrar o ideal — é encontrar o real. Alguém disposto. Disposto a construir contigo, a aprender-te, a respeitar o teu tempo, os teus silêncios, os teus limites. Alguém que não te queira mudar, mas caminhar contigo enquanto evoluis. Alguém que aceite a totalidade do que és: as tuas virtudes, sim, mas também as tuas falhas, os teus medos, as tuas sombras.

Relacionamentos não são sobre perfeição, são sobre compromisso. E compromisso é presença, é lealdade mesmo quando o mundo lá fora tenta distrair. É a mão que segura, o olhar que compreende, o gesto que acolhe. É saber que, mesmo quando tudo parece ruir, há alguém que não desiste. Que fica. Que constrói, que repara, que insiste — não por dependência, mas por escolha.

Amar, afinal, é uma decisão diária. É um pacto silencioso entre duas almas que se reconhecem e se respeitam, mesmo quando não se compreendem por completo. E é nesse espaço de entrega mútua que o amor amadurece: na liberdade de ser quem se é, sem medo, sem máscaras, sem jogos.

Poupa-te de amores que te rasgam. Escolhe com sabedoria. Porque quem entra no teu coração, entra também na tua paz — ou na tua tormenta. E isso… isso faz toda a diferença.



Nota final:

E apesar de tudo o que já vi, vivi ou aprendi sobre o amor — dou graças a Deus por ter ao meu lado um homem que é tudo: marido, namorado, companheiro, amigo. Um homem que nunca tentou mudar quem sou, que sempre me segurou a mão, mesmo quando não vacilei… mas caí. E ele, com amor e paciência, não só me levantou — fê-lo a sorrir. Não somos perfeitos — nem temos de ser. Mas ele é mais do que alguma vez ousei sonhar. E é com um orgulho imenso que digo: é ele o pai dos nossos filhos. E é com ele que escolho caminhar, todos os dias, lado a lado, com o coração em paz.


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