Reflexão - maio

Na vastidão silenciosa do espírito humano, trava-se diariamente uma batalha subtil mas poderosa entre a soberba e a humildade, entre a vontade de dominar e a disposição para servir. No contexto da vida cristã, este combate adquire contornos espirituais profundos, pois está em jogo não apenas o ego, mas o próprio sentido de pertença ao Corpo de Cristo. A liturgia, a Palavra e a tradição mística da Igreja ensinam-nos que a humildade não é anulação, mas exaltação pela via da verdade, e que o orgulho, mesmo quando discreto, é uma sombra que nos afasta da luz.


Reflexão Espiritual

À semelhança dos homens de Babel, também nós, nas nossas rotinas e ambições, somos tentados a construir torres interiores que desafiam o céu. Somos instigados, quase instintivamente, a sobrevalorizar os nossos méritos, esquecendo que toda a graça provém de Deus. Contudo, a Palavra é clara: “a soberba precede a ruína” (Pr 16,18). Esta advertência não visa a nossa aniquilação, mas o nosso despertar.

Sim, por vezes deixo-me tocar pelo orgulho. Não por arrogância deliberada, mas porque sou humana, falível e em constante construção. É uma luta silenciosa, muitas vezes invisível ao olhar externo, mas intensamente viva dentro de mim. Reconhecer este toque do orgulho é, paradoxalmente, um acto de humildade, pois revela a consciência do limite e a sede de transformação.

Apesar disso, procuro viver com entrega dedicada à vida da Igreja. Com amor, com gratidão, com a alegria de quem sabe que servir é um privilégio e não uma obrigação. Participo não para ser vista, mas porque a fé move-me, porque Deus me chama, e porque o dom que recebo quer ser partilhado.

Quanto às boas obras, não apenas estou disponível: desejo ardentemente nelas colaborar. Petiscar, sim — no sentido mais puro da metáfora — partilhar do banquete da caridade, da justiça, do serviço. Quero ser canal, instrumento, ponte. Na comunidade e na sociedade, nas margens e no centro, onde a presença de Deus me impelir.


Conclusão

Caminhar na humildade não é negar os dons que possuímos, mas reconhecê-los como herança divina, colocada em nós para o bem comum. O coração humilde não se esconde, mas também não se exalta — permanece disponível, escutando e servindo. E é nessa escuta que a verdadeira grandeza floresce.



Oração da Caminhante Humilde

Senhor, Deus de ternura e verdade, venho diante de Ti com o coração nu, sem máscaras, sem armaduras, sem defesas.

Tu conheces os recantos mais ocultos da minha alma, as lutas que travo em silêncio, os momentos em que o orgulho me toca sem que eu o queira.

Não me deixes perder-me em mim mesma.

Quando a soberba quiser seduzir o meu coração, sussurra-me a Tua humildade, lembra-me que o maior é o que serve, e que o Teu Filho se fez servo por amor.

Dá-me a graça de reconhecer a minha pequenez sem cair na autoacusação, de acolher os meus limites como terreno fértil onde o Teu Espírito pode agir e transformar.

Ensina-me a caminhar com os outros, não à frente, não atrás, mas lado a lado.

Que a minha entrega à Igreja seja discreta, mas cheia de fogo, que o meu serviço seja silencioso, mas fecundo.

E que nas pequenas obras do dia-a-dia, nos gestos simples, nas palavras doces, nos silêncios que escutam, eu una-me a Ti, e seja sinal da Tua presença no mundo.

Senhor, não permitas que o meu coração se exalte, mas também não deixes que se esconda.

Faz dele morada Tua, espaço de paz, de luz, de entrega.


Ámen.

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