"Amo-te infinitamente": um gesto de amor que ressoa no tempo

Há instantes na vida que se gravam em nós como se fossem eternos. Não pela sua grandiosidade exterior, mas pela profundidade emocional que os sustenta. Receber esta pequena homenagem do meu filho, feita com as suas mãos na escola, foi precisamente um desses instantes: um momento suspenso no tempo, onde o coração se reconhece, se comove, se ilumina.

Ao olhar para este quadro tão singelo — cartolinas em forma de coração, palavras inocentes, letras tremidas, desenhos infantis — percebo o quão profundo pode ser o gesto mais simples. E imediatamente, o meu pensamento volta-se para a professora, essa figura tantas vezes silenciosa, mas que com sabedoria e afecto soube semear esta celebração do amor.

A sensibilidade de uma professora que ensina com o coração

É preciso uma alma generosa para compreender que o ensino vai além dos conteúdos programáticos. Que educar é também formar laços, abrir espaço para a expressão emocional, cultivar o afecto. Esta professora, ao propor esta actividade tão aparentemente simples, revelou uma compreensão rara: que uma criança precisa aprender a dizer “obrigado”, a nomear sentimentos, a reconhecer o cuidado. Mas não como uma formalidade imposta — e sim como um acto espontâneo, como flores que brotam quando o solo é fértil. E o solo, neste caso, foi ela.

As cores escolhidas, os recortes meticulosos, as molas com corações no topo — tudo aponta para um cuidado artesanal, quase artesanalmente maternal, que transforma o quotidiano da escola num espaço de afeto partilhado. É uma pedagogia do sentir. E é comovente perceber que, graças a ela, o meu filho pôde dizer com todas as letras — ainda que infantis — aquilo que o amor dele guarda em silêncio: “Amo-te infinitamente, mãe.”

O amor de um filho: puro, límpido, sem medida

As palavras do meu filho ecoaram em mim com a força de uma revelação. Não apenas porque foram ditas, mas porque vieram de um lugar onde habita a verdade. Os filhos, quando ainda não foram moldados pelas convenções da linguagem adulta, dizem o que sentem com uma pureza devastadora.

“Obrigada por tudo o que fizeste”. “Ensinaste-me coisas importantes, mãe”. “Obrigada por todas as vezes que me ajudaste”. E depois — como uma pedra preciosa no centro do coração — “Amo-te infinitamente.”

Infinitamente. Que palavra ousada para uma criança. E, no entanto, tão justa. Porque o amor entre mãe e filho é, de facto, sem fim. Não conhece relógios, não conhece geografia, não conhece barreiras. É um amor que resiste às noites mal dormidas, aos dias difíceis, aos silêncios, às birras, ao cansaço. E mesmo quando tudo parece transbordar — ainda ali está ele, fiel, inquebrável, disponível.

Ver estas palavras nas mãos do meu filho é mais do que receber um carinho. É ver-me reflectida. É reconhecer-me nos olhos dele, nas palavras dele, no sentimento dele. E nessa imagem devolvida, revejo a minha caminhada como mãe: cheia de falhas, mas também cheia de amor.

Ser mãe: travessia sagrada feita de gestos diários

Ser mãe é, por vezes, andar sobre brasas com um sorriso no rosto. É renunciar a tantas coisas — tempo, sono, liberdade — e ainda assim sentir-se rica. É escutar histórias com atenção mesmo quando a cabeça grita por descanso. É saber dizer “não” quando tudo em nós queria apenas dar o “sim” que evita lágrimas. É cuidar mesmo quando ninguém vê. É segurar o mundo de outra pessoa enquanto o nosso mundo ameaça ruir.

Mas ser mãe é também — e sobretudo — colher recompensas invisíveis: aquele abraço inesperado, aquele “adoro-te” sussurrado antes de dormir, aquele bilhete com letras incertas e alma inteira. É nesse lugar de troca silenciosa que a maternidade floresce: no amor partilhado, no diálogo constante, na compreensão que não exige explicação, na paciência que se renova com cada dia.

Um caminho partilhado: meus filhos caminham a meu lado

Hoje, ao ver esta homenagem, senti-me inteira. E não só hoje. Todos os dias, de alguma forma, sou abraçada por este amor que não se esgota. Mesmo quando tudo falha, mesmo quando me questiono, mesmo quando erro — esse amor está lá, firme, fiel, a dar-me sentido e direcção.

Hoje e todos os dias, sinto-me plena. Vista, amada, celebrada. Porque os meus filhos caminham a meu lado. E nesse caminhar há partilha. Há escuta. Há perdão. Há construção conjunta de um lar interior que não se mede em paredes, mas em afectos.

Somos companheiros de travessia. Eles aprendem comigo — e eu, humildemente, aprendo com eles. Crescemos juntos. E esse crescimento não é apenas físico ou intelectual: é espiritual, emocional, profundamente humano.

O amor que nos une não se escreve só em datas festivas, mas nas entrelinhas do quotidiano. É feito de silêncios compreendidos, de gestos repetidos, de afecto que se entrega sem pedir retorno. E esse amor — esse amor infinito — é o maior dom da minha vida.

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