Minha decisão.
Nunca uma decisão minha provocou tamanha estupefacção, tão ruidosa comoção, tão encenada indignação.
Poder-se-ia pensar que anunciei o fim da democracia ou a derrocada dos mercados financeiros. Mas não. Simplesmente anunciei, com a serenidade dos que sabem ao que vão, que me converti. Que abracei a fé católica. Que escolhi, em consciência e com lucidez, viver segundo princípios que muitos citam e poucos seguem.
E foi então que o mundo — ou melhor, certos círculos do mundo — se desfez em tremores e tremeliques. Os apóstolos do relativismo moral, os catedráticos da incoerência, os padres do politicamente conveniente, apressaram-se a opinar, a zombar, a diagnosticar. Aparentemente, uma pessoa já não pode mudar de vida sem que isso perturbe o sistema nervoso alheio.
Pois fiquem, então, perturbados. A mim, Deus disse:
"Minha filha amada, não te dês ao espectáculo da disputa. Não grites, não batas o pé, não envies ninguém para sítio algum — nem verbalmente nem mentalmente, e sabemos que és criativa em ambos os registos. Não te vinguem nem cultives o rancor como quem rega uma planta venenosa. Antes, confessa os teus pecados — e fá-lo com honestidade, pois há matéria — e retrata-te, com humildade, se destratares alguém. Semeia amor, mesmo que colhas espinhos.”
E é isso que escolhi. Não por cobardia. Mas por coragem. A coragem de não retribuir o mal com mal. A ousadia de amar num tempo em que o cinismo é moeda corrente. A rebeldia de não viver refém do ego nem escrava das expectativas dos outros.
Falo-vos de Deus, e sei que isso vos incomoda. Preferiam que falasse de energia, de vibrações, de “o universo quis assim” — essa linguagem vácua que permite tudo e não exige nada. Pois lamento desapontar: optei pela Cruz. Pela Verdade. Pela Graça. E com isso vieram a liberdade e a paz que tanto procuram nas vossas terapias e escapismos.
Hoje tenho os santos como amigos e modelos. A Virgem Maria como intercessora. A oração como arma. A confissão como catarse. E a Eucaristia como sustento. Não, não me tornei perfeita. Tornei-me consciente. E isso, por si só, já é uma ameaça para muitos.
Quem tem um problema comigo, que fique com dois:
— O que tem comigo, que é lá com ele.
— E o de se entender consigo próprio, que é muito mais trabalhoso.
Se, ainda assim, quiser também ter um terceiro — o de se reconciliar comigo — estou disponível. Mas aviso: traga humildade, verdade e vontade. Não me venha com meias desculpas ou diplomacias insípidas.
O meu caminho é outro. Não mais construído à base de ferocidade disfarçada de franqueza, nem de orgulho travestido de dignidade. O meu caminho é o da luz. E quem não suporta essa claridade, que se refugie na sombra — é lá que muitos se sentem em casa.
Fé vs. Mundanismo: Uma Incompatibilidade Irreconciliável
Escolher a fé, hoje, é um acto de rebelião. Não dessas rebeliões juvenis, ruidosas e vazias, mas daquelas que exigem coragem moral, verticalidade de carácter e uma dose considerável de desprezo pelo aplauso do mundo. Porque o mundo — esse palco onde todos gritam por atenção enquanto se afogam em superficialidade — não suporta a fé. Ela incomoda. Ela denuncia. Ela impõe limites.
A fé exige aquilo que o mundanismo odeia: silêncio, renúncia, coerência. O mundo prega liberdade, mas oferece libertinagem. Clama por autenticidade, mas venera a hipocrisia. Idolatra o “ser fiel a si mesmo”, contanto que esse “si mesmo” seja volátil, incoerente e convenientemente moldável às modas do momento.
Na fé, não há espaço para máscaras. Ou és ou não és. E isso perturba profundamente os que vivem de artifícios.
Escolhi Deus, e com isso virei herege aos olhos do novo clero: os influencers de valores líquidos, os pregadores de causas rotativas, os devotos do "faço o que me apetece". Mas não me importo.
Porque, ao contrário deles, a minha vida já não gira em torno da aprovação alheia. O meu altar está noutro lugar. A minha oração já não é um pedido de curtidas, mas um grito de alma.
Enquanto o mundo se debate em crises existenciais fabricadas, eu encontrei sentido. E isso — ai disso — é imperdoável para os que vivem a confundir liberdade com vazio.
Aos Falsos Moralistas: O vosso teatro tem os dias contados
Vamos falar a sério, sim? A hipocrisia já ultrapassou os limites do suportável.
Tenho sido alvo de olhares reprovadores, de conselhos não pedidos e de discursos moralistas recitados com uma convicção que faria corar um tele-evangelista. Tudo porque decidi abraçar a fé.
De repente, gente que vive de incoerência resolveu ensinar-me ética. É de rir — e de lamentar.
Vós, que relativizais tudo até a espinha dorsal vos escorregar do corpo, vós que tendes uma moral feita de papel vegetal — transparente, frágil e descartável — vindes agora dizer-me que me tornei “radical”?
Radical, sim. No sentido etimológico: da raiz. Porque fui à raiz das coisas. Das verdades. Da existência. Enquanto vós nadam à tona, em águas rasas e sujas, convencidos de que flutuar é o mesmo que saber nadar.
Reprovais a minha conversão como quem aponta o dedo com a mão imunda. Falais de “fanatismo” quando tudo o que vos desafia parece excesso. Mas o vosso próprio fundamentalismo laico, esse passa incólume. Dais lições de empatia, mas só para com os vossos. Pregais aceitação, mas odiais tudo o que vos confronte. Sois apóstolos da tolerância, até que vos apresentem um crucifixo.
Sabei disto: a vossa superioridade moral é um holograma. Luz sem substância. Brilho sem consistência.
E aos olhos de Deus — que vê o íntimo do coração, e não os discursos montados para as redes sociais — essa fachada vale zero.
Continuai, se quiserdes, a pregar sermões de bolso e frases feitas sobre amor e liberdade. Mas não venhais medir a minha fé com a vossa régua torta.
Deus conhece os Seus. E eu, graças a Ele, deixei de precisar da aprovação dos justos de fachada.